A capacidade de elaborar as suas próprias grelhas de leitura e de fazê-lo quando necessário acaba por ser o que realmente define uma elite. A mudança estrutural em curso (já muito rápida e a ganhar ainda mais velocidade…) tornou obsoletas as grelhas de leitura recebidas da segunda metade do século passado. De facto, tudo o indica, estamos perante uma completa mudança do modelo global que começou a ser construído depois de 1945 e cujas instituições e lógicas já não comportam as realidades actuais.
O modelo tinha sido estruturado para conter a expansão da URSS e do seu “mundo comunista”. Com a queda da URSS e do seu símbolo maior, o muro de Berlim, implodiu também a base em que o modelo assentava…
Logo a seguir, a China faz a sua entrada no mercado mundial. O modelo também não previa a integração de uma economia com a dimensão brutal da chinesa. E muito menos previa a integração de uma economia de tal dimensão orientada por uma “sugadora” estratégia mercantilista.
O “11 de Setembro”, veio juntar a tudo isso o desencadear de uma “chaos operation”, uma guerra assimétrica e híbrida, que abala toda a arquitectura do modelo.
As elites ocidentais, capitaneadas por Clinton, Bush Jr. e Obama, alcançaram a proeza de, durante três décadas, conseguirem ignorar as realidades enquanto se ocupavam com oportunas questões societais (mas ignorando as sociais…) e outras preciosidades muito “politicamente correctas”.
Enfim, um barroquismo completo que teve o seu ponto mais perfeito na campanha presidencial da senhora Clinton que se dedicou a discutir muito seriamente quem poderia ir a que casa de banho, no momento em que o pão e o tecto falhavam ao proletariado americano e a classe média se afundava.
E é esta gente que se diz “surpreendida” pela escolha eleitoral de Donald Trump! E que só a consegue “explicar” por uma soviética e desbragada intervenção putinesca!
Esta miséria de discurso político necessita, obviamente, de ser explicada. Agarrada a (e por…) grelhas de leitura arcaicas e obsoletas não conseguem “ler” a realidade, que assim recusam, e só uma ”teoria da conspiração” (imputada, obviamente, a Putin) lhes permite “explicar” um facto tão singelo como a eleição de Trump (aqui antecipada e prevista no início de Junho 2016).
A absoluta, imperiosa e urgente necessidade de elaborar novas grelhas de leitura capazes de integrar os factos e “iluminar” a sua leitura torna-se assim evidente. A guerra económica desencadeada por Trump torna essa necessidade ainda mais imperiosa e urgente. A “interpretação” dessa guerra que está a ser feita por decisores políticos e económicos, pelos media e pelos “opinion makers”, é uma coisa paupérrima e que falha em toda em linha.
Veja-se, por exemplo, a intervenção da presidente do FMI, a Lagarde, que não conseguiu mais nem melhor do que dizer, agora na abertura da reunião do G20, que tal guerra económica ameaça o crescimento da economia mundial… Quando o que está em causa é uma questão de potência!
É esta disfunção intelectual que o nosso velho amigo Christian Harbulot aqui analisa, com a sua mestria habitual.
L’IMPÉRIEUSE NÉCESSITÉ OCCIDENTALE D’ÉLABORER DE NOUVELLES GRILLES DE LECTURE
Christian Harbulot | InfoGuerre | 17 Juillet 2018
Le dernier sommet d’Helsinki entre Donald Trump et Vladimir Poutine a révélé les limites des vieilles grilles de lecture. Les médias sont les premiers touchés par ce phénomène. Mais en définitif c’est le cœur de la matrice impériale que l’Occident a généré depuis siècles qui est atteinte de plein fouet par la mutation actuelle des rapports de puissance.
(Ler versão integral em L’impérieuse nécessité occidentale d’élaborer de nouvelles grilles de lecture)
Exclusivo Tornado / IntelNomics
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.