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Segunda-feira, Novembro 4, 2024

Da absoluta necessidade de novas grelhas de leitura

José Mateus
José Mateus
Analista e conferencista de Geo-estratégia e Inteligência Económica

A capacidade de elaborar as suas próprias grelhas de leitura e de fazê-lo quando necessário acaba por ser o que realmente define uma elite. A mudança estrutural em curso (já muito rápida e a ganhar ainda mais velocidade…) tornou obsoletas as grelhas de leitura recebidas da segunda metade do século passado. De facto, tudo o indica, estamos perante uma completa mudança do modelo global que começou a ser construído depois de 1945 e cujas instituições e lógicas já não comportam as realidades actuais.

O modelo tinha sido estruturado para conter a expansão da URSS e do seu “mundo comunista”. Com a queda da URSS e do seu símbolo maior, o muro de Berlim, implodiu também a base em que o modelo assentava…

Logo a seguir, a China faz a sua entrada no mercado mundial. O modelo também não previa a integração de uma economia com a dimensão brutal da chinesa. E muito menos previa a integração de uma economia de tal dimensão orientada por uma “sugadora” estratégia mercantilista.

O “11 de Setembro”, veio juntar a tudo isso o desencadear de uma “chaos operation”, uma guerra assimétrica e híbrida, que abala toda a arquitectura do modelo.

As elites ocidentais, capitaneadas por Clinton, Bush Jr. e Obama, alcançaram a proeza de, durante três décadas, conseguirem ignorar as realidades enquanto se ocupavam com oportunas questões societais (mas ignorando as sociais…) e outras preciosidades muito “politicamente correctas”.

Enfim, um barroquismo completo que teve o seu ponto mais perfeito na campanha presidencial da senhora Clinton que se dedicou a discutir muito seriamente quem poderia ir a que casa de banho, no momento em que o pão e o tecto falhavam ao proletariado americano e a classe média se afundava.

E é esta gente que se diz “surpreendida” pela escolha eleitoral de Donald Trump! E que só a consegue “explicar” por uma soviética e desbragada intervenção putinesca!

Esta miséria de discurso político necessita, obviamente, de ser explicada. Agarrada a (e por…) grelhas de leitura arcaicas e obsoletas não conseguem “ler” a realidade, que assim recusam, e só uma ”teoria da conspiração” (imputada, obviamente, a Putin) lhes permite “explicar” um facto tão singelo como a eleição de Trump (aqui antecipada e prevista no início de Junho 2016).

A absoluta, imperiosa e urgente necessidade de elaborar novas grelhas de leitura capazes de integrar os factos e “iluminar” a sua leitura torna-se assim evidente. A guerra económica desencadeada por Trump torna essa necessidade ainda mais imperiosa e urgente. A “interpretação” dessa guerra que está a ser feita por decisores políticos e económicos, pelos media e pelos “opinion makers”, é uma coisa paupérrima e que falha em toda em linha.

Veja-se, por exemplo, a intervenção da presidente do FMI, a Lagarde, que não conseguiu mais nem melhor do que dizer, agora na abertura da reunião do G20, que tal guerra económica ameaça o crescimento da economia mundial… Quando o que está em causa é uma questão de potência!

É esta disfunção intelectual que o nosso velho amigo Christian Harbulot aqui analisa, com a sua mestria habitual.

L’IMPÉRIEUSE NÉCESSITÉ OCCIDENTALE D’ÉLABORER DE NOUVELLES GRILLES DE LECTURE

Christian Harbulot | InfoGuerre | 17 Juillet 2018

Le dernier sommet d’Helsinki entre Donald Trump et Vladimir Poutine a révélé les limites des vieilles grilles de lecture. Les médias sont les premiers touchés par ce phénomène. Mais en définitif c’est le cœur de la matrice impériale que l’Occident a généré depuis siècles qui est atteinte de plein fouet par la mutation actuelle des rapports de puissance.

(Ler versão integral em L’impérieuse nécessité occidentale d’élaborer de nouvelles grilles de lecture)


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