O “espírito aventureiro” está nos genes do povo português e levou-o de viagens “por mares nunca dantes navegados”, na tentativa de estabelecer contactos com outras civilizações e culturas, com o objectivo de obter riquezas e na ânsia de conquistar novas terras, evidenciando a sua ousadia e coragem na descoberta do mundo até então desconhecido.
As características atrás mencionadas permitiram a Portugal assumir o protagonismo devido ao facto de ser o principal responsável pelo encetar deste processo complexo, seguido posteriormente por outros países europeus nomeadamente a Espanha, a Inglaterra e mesmo a Holanda.
Os contactos estabelecidos entre culturas diferentes bem como os respectivos laços comerciais que entre elas se geraram, deram origem a fenómenos de aculturação por reintegração que não só serviram para reforçar a coesão cultural, contribuindo também para a adopção de novos hábitos garantidos pelo processo de feed-back que essas relações comerciais geraram.
A partir do séc. XV e até ao séc. XIX (épocas das navegações e da expansão e colonização portuguesas) o contacto linguístico determinou a formação de “crioulos”.
Os primeiros contactos estão na génese da formação de pidgins, permitindo a comunicação imediata.
Estes pidgins perduraram como línguas de comércio na África e na Ásia até ao século XVIII.
Pidgin ou pídgin, também chamado de língua de contacto, é o nome dado a qualquer língua que é criada, normalmente de forma espontânea, de uma mistura de outras línguas, e serve de meio de comunicação entre os falantes de idiomas diferentes.
Os crioulos de base portuguesa foram habitualmente classificados de acordo com um critério de ordem predominantemente geográfica embora, em muitos casos, exista também uma dependência mútua entre a localização geográfica e o tipo de línguas em presença no momento da formação.
Assim, podemos considerar que a língua portuguesa está na génese dos Crioulos
– da Alta Guiné (em Cabo Verde, Guiné-Bissau e Casamansa) e os do Golfo da Guiné (em S. Tomé, Príncipe e Ano Bom), em África;
– Indo-portugueses, nomeadamente os da Índia (de Diu, Damão, Bombaim, Chaul, Korlai, Mangalor, Cananor, Tellicherry, Mahé, Cochim, Vaipim e Quilom e da Costa de Coromandel e de Bengala) e os do Sri-Lanka, antigo Ceilão (Trincomalee e Batticaloa, Mannar e zona de Puttallam). Quanto a Goa (na Índia), é discutível se aí se terá formado um crioulo de base portuguesa – a forte pressão do português enquanto língua oficial e de instrução, teria impedido a formação de um crioulo em Goa;
– da Ásia, onde surgiram crioulos de base portuguesa na Malásia (Malaca, Kuala Lumpur e Singapura) e em algumas ilhas da Indonésia (Java, Flores, Ternate, Ambom, Macassar e Timor) conhecidos sob a designação de Malaio-portugueses;
– Sino-portugueses, os crioulos de Macau e Hong-Kong;
– na América encontramos ainda um crioulo que se poderá considerar de base ibérica, já que o português partilha com o castelhano a origem de uma grande parte do vocabulário (o Papiamento de Curaçau, Aruba e Bonaire, nas Antilhas);
– no Suriname, o Saramacano, que, sendo de base inglesa, manifesta no seu léxico uma forte influência portuguesa.
Estão classificados como crioulos de base portuguesa, 32 no total.
Alguns investigadores da língua referem variedades de um semi-crioulo de base portuguesa no Brasil, e variedades dialectais afro-brasileiras que corresponderiam a uma fase avançada de “descrioulização” de antigos crioulos, como a de Helvécia. Em relação à Helvécia, muitas das características da língua crioula da região perderam-se, infelizmente, devido à decisão, tardia, de estudar esta variante dos crioulos de base portuguesa, no Brasil.
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