Era um sonho lindo a caminho do estrelato maior. A Europa, já não nos chegava. Queríamos abraçar o Mundo e subir ao pico mais alto – De Campeões Europeus a Campeões do Mundo. Sim, porque a Europa está meia moribunda e já não é o que já foi, o centro do Mundo, e já não nos bastava.
Em tempos abraçámos o Mundo e chegámos aos confins. Lá chegámos à custa de muita lágrima, destemor, e a nossa arma era a caravela. Agora, queríamos lá chegar e repetir o feito à custa da trivela. Em tempos foram os Gamas, os Cabrais, os Albuquerques. Agora seriam os Patrícios, os Quaresmas, os Silvas, os Carvalhos e os Ronaldos os grandes conquistadores. Mais plebeus, menos brasonados, com menos fidalguia, mas ainda assim com a mesma têmpera.
Enchemos as praças, e demos as mãos para criar um arco voltaico de energia que fosse de Sagres até Moscovo, ou melhor ainda, até às praias do Mar Negro, até Sochi. As cartomantes deitaram as cartas e leram nas estrelas que iríamos ser grandes de novo. Na ponta das chuteiras, os deuses protectores do nosso destino, iriam levar-nos outra vez para além da Taprobana, e suplantar essa apagada e vil tristeza, que tão bem cantou o nosso poeta maior.
Mas não foi assim. O Diabo era azul e cavou o nosso sonho numa sepultura de desilusão. Cavou, ou melhor, cavaniou, a nossa quimera e mandou-nos regressar mais cedo a Lisboa do que a nossas esperanças e fé ditavam. Lisboa onde o Velho do Restelo já tinha alertado para as fraquezas da nossa armada de conquistadores e proclamado que, desta vez, de Montevidéu não sopravam ventos favoráveis e que se insistíssemos em navegar à bolina, o naufrágio seria certo.
Agora, as praças estão vazias. Afogamos as mágoas na consolação de que, ainda assim, somos os melhores e que os nossos santos, anjos e arcanjos, não cumpriram a sua parte. Estamos estupefactos porque não sabemos bem porque o fizeram, nós o povo dessa terra de Santa Maria que sempre pagou as suas promessas e sempre evitou ofender as divindades.
E com a tristeza vem a dúvida. Se calhar somos menos capazes do que julgávamos. É a nossa ancestral bipolaridade lusitana. Choramos. Choramos menos de raiva do que de impotência e incredulidade. Quando a realidade nos derruba, as nossas quedas causam sempre fracturas graves porque caímos sempre das altitudes da montanha, lá onde os nossos sonhos teimam em morar.
Choramos, e os jogadores choram. Já não vão ser recebidos como heróis, e aclamados como deuses, mas sim como simples mortais que não conseguiram da lei da morte libertar-se. Sim, é Camões, de novo o nosso poeta maior. Nem ele lhes valeu e lhes transmitiu a gesta necessária da Nação na hora do remate. Nem ele nem os nossos santos milagreiros, à excepção de um, São Marcelo. Ele sim, ele lá estava na hora do consolo e no tempo de afogar as mágoas.
Mas não chegou. Selfies e beijos não marcam golos nem impedem que as tormentas do desânimo nos assaltem. Amanhã é outro dia e vamos ter dificuldade em acordar com o choque da realidade a pesar-nos nos ombros. Já não vamos ser Campeões do Mundo, de novo conquistadores do mundo. Estamos outra vez reduzidos ao nosso cantinho, barões assinalados nesta ocidental praia lusitana…
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