DIA 15, FALAMOS
Um dos piores sintomas que uma sociedade ou uma comunidade podem apresentar é o sentimento de indiferença.
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Um dos piores sintomas que uma sociedade ou uma comunidade podem apresentar é o sentimento de indiferença. Indiferença perante os problemas dos outros, por exemplo. Nos longos meses já vividos nesta pandemia, esse tem sido um sentimento presente num número cada vez maior de pessoas.
Alguns atribuem esse fenómeno ao cansaço que a situação e as suas limitações implicam. Outros, mais cáusticos, defendem que é mero egoísmo.
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Mas, a verdade é que, seja qual for a causa última desta indiferença, há algo que me parece indiscutível: no espaço público e nos meios de comunicação social, está a acontecer uma espécie de banalização da morte e da doença. Por três ordens de razões:
- Em primeiro lugar, a maior parte das notícias centra o seu foco em três aspectos que induzem a que a discussão se centre em aspectos que não são os essenciais. Isto é: são longas peças jornalísticas sobre o número de mortos, infectados, internados e recuperados. Mas, muitas vezes, sem qualquer contextualização e comparando o que não é comparável. Por exemplo, são imensos os casos em que o número de casos (mortes, internados, infectados) é anunciado sem o seu enquadramento que seria fácil de obter acrescentando uma unidade comparativa por cada 100 mil habitantes ou por cada milhão de habitantes.
- Depois, não há um esforço de sólida interpretação do que se está a anunciar. Como é óbvio, os jornalistas não têm de ser especialistas em saúde pública ou em situações pandémicas. Mas já se poderia exigir que, no mínimo, fossem capazes de investigar e de procurar junto de verdadeiros especialistas as possíveis explicações e as informações concretas que permitam a todos nós uma melhor compreensão do fenómeno e uma mais conseguida vontade de prevenção da disseminação da pandemia.
- Finalmente, a indiferença pode crescer porque as vozes supostamente autorizadas se contradizem. Os supostos responsáveis comunicam mal e de forma díspar, reduzindo a confiança das pessoas e dando espaço para a especulação em qualquer base de fundamento.
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Um último aspecto, agora que entrámos numa nova fase de restrições e confinamento. A pandemia é perigosa e já tem efeitos muito sérios nas pessoas, na sociedade, na economia e nos comportamentos sociais. Enfim, a nossa vida e de uma forma nunca imaginada mudou (ou está a mudar).
Estamos a viver um tempo em que o perigo espreita em qualquer lado e, só em Portugal, pode atingir milhões de pessoas, destruir centenas de empresas e destruir milhares de empregos.
Portanto, a situação é grave. Temos todos de dar o exemplo no escrupuloso cumprimento das medidas de prevenção que teremos de tomar, por muito aborrecidas ou incómodas que sejam. Se continuarmos (ou se nos tornarmos) indiferentes à crise da pandemia, será cada vez maior o risco de todos.
Perante um problema desta dimensão, não temos opções simpáticas. Temos sim o dever de ajudar e de contribuir para que os seus efeitos sejam minorados. Numa época em que tanto se fala de direitos, se apenas contemplarmos o próprio umbigo ou se formos indiferentes, estaremos longe de cumprir um dever importante: o da solidariedade perante os outros e o seu destino.
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