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João de Sousa

Quarta-feira, Julho 17, 2024

Da Memória

J. A. Nunes Carneiro, no Porto
J. A. Nunes Carneiro, no Porto
Consultor e Formador

DIA 15, FALAMOS

Ao longo de meses e meses temos assistido a um fenómeno imprevisto no quadro da saúde mental da população portuguesa: a memória e a sua qualidade quando algumas pessoas se sentam nas salas da Assembleia da República…

I

Ao longo de meses e meses temos assistido a um fenómeno imprevisto no quadro da saúde mental da população portuguesa: a memória e a sua qualidade quando algumas pessoas se sentam nas salas da Assembleia da República onde decorrem os trabalhos de Comissões Parlamentares de Inquérito. É um problema estranho e para o qual os especialistas não encontraram explicação científica. Curiosamente, nas suas pesquisas, os investigadores do fenómeno constatam que o problema afecta pessoas que, num passado muito recente, estavam a desempenhar funções profissionais de elevada responsabilidade e ocupando cargos públicos de relevo em Portugal ou até a nível internacional. Mais imprevisto e surpreendente ainda é que os problemas evidenciados de falta de memória são absolutamente selectivos: há factos (decisões, opções, etc.) que se apagaram de forma dramática e aparentemente irreversível. Mas, as mesmas pessoas continuam a desempenhar outras funções igualmente de relevo e grande responsabilidade. Também não foi conhecido nenhum caso com evidência de que estão a ser acompanhadas por um neurologista (ou outro especialista) no sentido de se tratarem e de recuperarem desta triste condição de saúde. Sobretudo porque são pessoas que ainda terão tanto para dar e, pelo menos algumas, estão longe da idade de reforma.

II

Não sendo eu um especialista em psicologia, neurologia ou qualquer outra ciência que possa estudar o fenómeno, continuo intrigado e preocupado.

E comecei a pensar: uma pessoa normal toma uma decisão que envolve a aplicação num projecto de milhões de euros. Ou dá o seu aval a que outros recebam por empréstimo milhões de euros. Será que vai esquecer essa decisão com a facilidade como já esqueceu o que comeu ao almoço em 3 de Setembro de 2007?

Consultei vários livros em que reputados autores e cientistas explicam o funcionamento do cérebro e os mecanismos da memória. Em nenhum encontrei uma explicação ainda que parcial deste fenómeno. Portanto, estaremos perante algo de novo e que poderá gerar uma nova área de investigação ou poderá ser objecto de teses de doutoramento. Ou poderá ainda ser criada uma fundação para patrocinar esse estudo. Mas, sem a menor dúvida, temos de fazer um esforço sério para que este fenómeno seja estudado e desvendado algum mecanismo que permita a sua prevenção no futuro. A bem da saúde mental do nosso país e para que não haja mais vítimas. Sobretudo pessoas que, durante anos e anos, deram o melhor de si para gerir bancos, empresas ou ministérios. E, agora, estão completamente abandonados no infortúnio e na desgraça de não saberem o que lhes aconteceu e o que se passa com uma faculdade essencial como a memória. Estão certamente desesperados com a sua condição e, tendo recursos financeiros provavelmente limitados, estarão ansiosos e preocupados com o seu futuro: sem memória, sem emprego e sem esperança em encontrar novas oportunidades de trabalho. Há que fazer alguma coisa. É urgente.

III

Ao escrever este texto não deixei de pensar na minha avó que me ensinou: “apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo”… Como estas palavras me parecem cada vez mais sábias! Se fosse viva, a minha avó talvez encontrasse com rapidez a solução para a explicação deste inusitado fenómeno. Imagino-a a analisar a situação e a dizer que estas vítimas da falta de memória não estão doentes. Não. Nada disso. Talvez apenas tenham apenas uma obscena falta de vergonha. Obrigado, avó!


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