Ao escrever este prefácio a pedido do poeta Jorge Viegas, sinto uma enorme responsabilidade e, ao mesmo tempo, uma grande alegria por estar a fazê-lo por um amigo que respeito e um autor que aprendi a admirar.
Outra coincidência feliz, é que, ambos recebemos a bênção ancestral quelimanense e somos provenientes do torrão zambeziano. Se bem me recordo, li algures que o sábio Lao Tsé já afirmara que “A humildade é a maior das virtudes” e nós sabemos que a humildade é tão velha como a história da civilização humana.
Ao conhecer o poeta e o homem, pude constatar que a modéstia, por vezes exacerbada, é a sua principal marca/ característica/ virtude, embora não seja a única que possui. Trata-se na verdade, de um excelente poeta, cronista e declamador moçambicano, hoje, na diáspora. Em várias tertúlias e encontros sempre elevou vários nomes quer das literaturas moçambicana e portuguesa, quer da literatura universal, chamando-lhes de poetas maiores, quase ignorando o seu. Embora estejamos de acordo em múltiplos aspectos da literatura, neste aspecto particular, permitam-me discordar dele.
Sempre acreditei que para que a nossa estrela brilhe não é necessário apagar a luz de ninguém. O mesmo se aplica no sentido inverso.
Pelo que, é de inteira justiça afirmar que ele próprio já faz parte de uma galeria de autores que ficará para sempre na história da literatura moçambicana e augurando futuros, também na literatura universal. A modéstia não conseguirá apagá-lo, ainda que, como poeta genuíno que é, procure “naturalmente” praticar zelosamente o poema.
Por outro lado, sempre acreditei que “o poeta se revela na generosidade com que se dá aos outros” e ele fá-lo com total entrega, sem nada esperar ou exigir em troca.
Esta publicação antológica, embora tardia (mas nunca é tarde demais para nada) é inteiramente merecida e faria todo o sentido se acontecesse numa grande editora. Infelizmente, as grandes editoras de hoje (e desde sempre) apontam as baterias recarregando-as nalguns nomes grandes que o são, na verdade, nalguns casos por um apurado trabalho de marketing comercial (entre outros) e não apenas fruto da sua grandeza de facto em termos de criação literária. Sempre preocupado com a estética, afirma convicto”… o poema só pode ser perfeito se o poeta for dos deuses o eleito”. Profundamente possuído pela modéstia, reafirma:
Sei que jamais farei um poema nitidamente meu.
A minha visão dos homens, das cousas e da vida, é visivelmente perturbada pela visão dos outros,
São os outros que olham, e não eu.”
Será isso a prática do poema? Não poderia deixar de especular sobre este aspecto. É por essas e por outras que acredito serem os poetas uma espécie de vendedores de passados que anunciam um futuro que não foi. Embora cultive obsessivamente a humildade desde muito jovem, como o prova este poema ”Carta a Régio”:
Vou tentar mascarar-me de palavras para saudar-te.
Sou ainda não o sabes, decerto, sacerdote da religião que tem um Rimbaud por Cristo…
Venho por mim, umbilical e subjectivo como tu, sensacionista e grande como uma pirâmide,
pedir uma carta de recomendação que me ponha de boas graças com o diabo…”.
Como dizia Rilke: Uma das provas ou desafios, a que tem de se sujeitar o poeta é que tem de permanecer inconsciente e ignorante em relação aos seus próprios dons se não quiser privá-los da sua ingenuidade e da sua pureza!”
Neste livro é difícil separar o conteúdo do autor do mesmo. E isso, é já por si bom sinal, na medida em que estamos perante a harmonia das palavras e a prática das mesmas ou pelo menos da crença nelas, há portanto, uma fusão total entre ambos. Por fim, as palavras revelam a estatura do autor.
Bayete pois então para o poeta!
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.