O luso-americano Daniel Silva, que é o grande mestre actual da ficção de espionagem, editou em 2019 este “A Rapariga Nova”. Esta data é muito importante, como já se verá, neste romance que não só foge das “verdades estabelecidas” como ainda ousa levantar questões e dúvidas suficientes para abalar os fundamentos de muita coisa que nos tem sido “vendida” como certa. E ousa antecipar outras em que ninguém, então, acreditaria.
Claro o romance é também um regresso do já lendário (na ficção, obviamente) chefe da Mossad, Gabriel Allon e das senhoras e dos ‘rapazes’ que o costumam acompanhar.
Daniel Silva coloca Gabriel Allon numa aparentemente inverosímil situação de aliança com o poderosíssimo “príncipe herdeiro da Arábia Saudita”. Podemos supor que os primeiros leitores tenham franzido o sobrolho, coçado a cabeça e pensado que o nosso Daniel tinha caído num fatal exagero. Claro, Trump ainda não tinha sentado à mesa chefes de Estado e de governo sunitas e israelitas a assinarem o reconhecimento mútuo e a estabelecerem relações diplomáticas, surpreendendo o mundo inteiro (menos aqueles que não gostam de ser surpreendidos).
Pelo meio, a história do ‘Salvator Mundi’, adquirido por um preço nunca visto em pintura, pelo dito príncipe saudita, é igualmente desmontada. O quadro não é de Leonardo da Vinci. E o príncipe foi, em tempo útil, disso mesmo informado por uma colaboradora de Gabriel Allon. O problema aqui é que, quando Daniel escreve, os peritos do Louvre (com o apoio do próprio presidente Macron) ainda não tinham comunicado a sua recusa em atribuir o quadro a Leonardo…
Também em Londres alguém deve ter também franzido o sobrolho, coçado a cabeça e procurado saber que mensagem se escondia na personagem descendente de Kim Philby (o mais famoso dos traidores do “grupo de Cambridge”). E, portanto, até que ponto o MI6 poderá continuar infiltrado pelos ‘serviços’ de Moscovo…
O chefe da Mossad a caçar em Inglaterra, com o apoio do príncipe saudita, os ‘agentes duplos’ e outros infiltrados de Moscovo na “inteligência” britânica não é coisa que se escreva de ânimo leve. Como os conhecimentos de Daniel Silva na Mossad não são desconhecidos, alguém poderá ter-se interrogado sobre “que raio nos estão eles a querer fazer saber ao mandar-nos à cara com esta rapariga nova?”
Donald Trump também não deverá ter gostado de saber que Daniel Silva conseguira sentar à mesa Gabriel Allon e o príncipe saudita um tempito antes do presidente dos Estados Unidos ter conseguido sentar governantes sunitas e israelitas e mudado o mapa do Médio Oriente, como “A rapariga nova” anunciara.
Ler a prosa inteligente e super-informada de Daniel Silva é um prazer que apenas tem um senão: chegado ao fim, lamenta-se que tenha acabado…
Quando sai o próximo, Daniel? Quando é que o Gabriel vem “passear” por Lisboa? Temos por cá umas coisitas que seria bom que ele tratasse…
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