A notícia da decisão do BCE de continuar a manter as taxas de juro inalteradas deveria ter merecido maior atenção que a meramente proporcionada pela constatação que a economia europeia já está paralisada, mas o BCE diz que só pode descer juros em Junho.
Todos estamos ainda bem recordados do que representaram as políticas monetaristas e neoliberais decididas pelos bancos centrais na sequência da crise sistémica de 2008 ou da crise do euro de 2012, quando a pretexto de salvar as economias se resgataram bancos e banqueiros a troco da pauperização das populações. Então, como agora, invocou-se o santo graal do crescimento e da produção de riqueza sem que a esmagadora maioria dos cidadãos tenha visto e sentido outra coisa que uma clara degradação das suas condições de vida.
Os anos passaram, as crises anunciaram-se debeladas, mas o paradoxo do crescimento económico a todo o custo continua a fazer estragos no dia-a-dia das populações e ainda mais quando recentemente se lhe juntou o de uma inflação que os especialistas (e em particular os dos bancos centrais) se recusam a admitir que não seja originada pelo excesso de moeda em circulação.
Recordando o que escrevi aqui no Tornado, em Setembro do ano passado, ao contrário do que sustentam os bancos centrais e os economistas neoliberais, o actual quadro inflacionista não resulta de um aumento da procura sustentado num excesso de oferta de moeda, antes de uma redução da oferta de bens e serviços originado pela redução da produção e pela quebra nos circuitos de distribuição provocados pela Covid-19 e pelas políticas de confinamento que a acompanharam, acrescento agora os malefícios resultantes do dogma do crescimento económico como medida de sucesso e bem-estar.
Como todos os outros, também o indicador do crescimento económico precisa ser avaliado à luz da realidade conjuntural, uma realidade que é a do crescente esgotamento dos recursos naturais absolutamente indispensáveis ao normal funcionamento das economias e que há muito deveria ter trazido para o topo das preocupações governamentais a mais elementar das questões: como é que as economias podem continuar a crescer num contexto de recursos limitados?
Se os decisores políticos fizessem o simples exercício de pararem para pensar, se fossem além da mera disputa partidário-eleitoral, se tivessem capacidade para perceber os interesses que movem os seus conselheiros económicos, talvez já tivessem percebido a verdadeira dimensão da afirmação «É a economia estúpido!» que se diz que levou Bill Clinton à presidência norte-americana em 1992.
Numa economia dominada pelo crédito (público e privado) o verdadeiro poder está no sistema financeiro que cria o crédito e não no sistema político que promove discursos e promessas. Pensem seriamente nisto, agora que é momento de votar!