Académicos e políticos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Macau, Moçambique, Portugal e Timor-Leste discutiram durante três dias o papel do ensino superior para o desenvolvimento dos países e regiões de língua portuguesa.
Esta Conferência Internacional foi organizada pelo Fórum da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa (FORGES), em parceria com cinco universidades moçambicanas, e realizou-se nos dias 29, 30 de Novembro e 1 de Dezembro de 2017, na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, Moçambique.
A importância da Conferência foi visível pela qualidade científica e intelectual dos professores e investigadores intervenientes, pela presença de políticos, nomeadamente o Ministro do Ensino Superior de Moçambique, a Vice-Ministra da Educação e Cultura de Timor-Leste, Lurdes Bessa, e o Secretário de Estado do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação de Angola, Eugénio da Silva, para além da presença activa de reitores de cinco Instituições de Ensino Superior moçambicanas, mas também de reitores e vice-reitores de universidades brasileiras e portuguesas.
Os três dias de debates distribuídos por três painéis, “Desafios da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa em Tempos de Austeridade: Experiências e Lições. Os desafios do Desenvolvimento. Qual o Papel das Instituições de Ensino Superior?”, “Expansão, Relevância, Qualidade e Empregabilidade dos Graduados do Ensino Superior dos Países e Regiões de Língua Portuguesa” e “Os desafios do Desenvolvimento da Pesquisa e da base de conhecimento sobre o Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa”, tendo havido um Workshop (Cooperação Académica para o Desenvolvimento: Redes, Parcerias e Financiamento) no primeiro dia, outro no segundo (A Gestão da Internacionalização na Educação Superior e a Formação de Líderes em Cooperação Internacional Universitária), bem como, sessões paralelas com muitas comunicações científicas.
Na Sessão de Abertura houve intervenções dos governantes de Angola, de Moçambique e de Timor-Leste, bem como da Presidente do FORGES, Luísa Cerdeira, e do Reitor da Universidade Eduardo Mondlane. Os académicos intervenientes foram muitos e a título de exemplo destacamos algumas das preocupações apresentadas.
De Angola
Alfredo Buza, docente do Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda, e ex-Director do Departamento de Formação Avançada do Ministério de Ciência e Tecnologia, com base em um estudo realizado em Luanda, referiu que foram «identificados desafios como uma maior divulgação da produção científica, mais socialização entre os investigadores e melhoria do acesso ao conhecimento que tem sido produzido». Na opinião do académico angolano é preciso haver «mais inter-acção entre investigadores e docentes nacionais, aumento da cooperação institucional entre as instituições locais ou nacionais e a definição de linhas de investigação e de grupos de investigação nas instituições».
Do Brasil
Aldo Nelson Bono, Presidente da Associação Brasileira das Universidades Estaduais e Municipais, no seu discurso, salientou o facto de «apesar da melhoria dos níveis de educação superior no país nas últimas décadas, constata-se que o Brasil possui índices inferiores aos de países desenvolvidos e, além disso, as importantes acções de inclusão social têm se mostrado insuficientes para atender à totalidade dos alunos com dificuldade de acesso ao ensino superior». Na opinião de Aldo Bono, por esta razão, «torna-se evidente a instauração de políticas públicas de estado para a garantia dos avanços obtidos, bem como para a ampliação do acesso e permanência dos estudantes, promovendo assim a equidade social no âmbito do Ensino Superior».
De Cabo Verde
Vitor Borges, ex-Ministro da Educação e Cultura, referiu que «a qualidade, a relevância e empregabilidade (adequação/eficácia) são inseparáveis da organização e gestão de todo o sistema educativo cuja estruturação não pode ser domínio reservado da academia, de ministros da educação e de burocratas». Segundo Borges, «outros sectores e actores da sociedade são partes interessadas e, por conseguinte, devem ser envolvidos no processo de estruturação e de prestação do serviço de ensino superior».
De Moçambique
Ana Piedade Monteiro, Vice-Reitora da UNIZAMBEZE, alertou para o facto de «a expansão não poder estar somente direccionada para a abertura de novas Instituições de Ensino Superior, e muitos menos novos cursos, ou ainda ao incremento do número de candidatos, mas sim responder a uma planificação a qual deve ir para além dos modelos próprios de gestão Universitária, assim como, a observância dos programas dos governos e comunidades locais».
De Portugal
Júlio Pedrosa, ex-Ministro da Educação, e ex- Presidente do CRUP, referiu que em «Portugal o número de estudantes quadruplicou nos últimos 25 anos (80919 estudantes em 1980 e 349658 em 2015) através de ofertas proporcionadas por universidades e Instituições Politécnicas, da responsabilidade do Estado, bem como de entidades do sector Privado e Cooperativo», contudo, Pedrosa realçou a importância de que “o desenvolvimento do Ensino Superior em Portugal deve ter em devida conta factores de contexto como a demografia e a ocupação dos territórios, a qualificação da população adulta e as escolhas das vias de educação secundária pela população jovem”. Na opinião do antigo governante português, “reconhece-se também que há espaço para diversificados contributos das Instituições de Ensino Superior para o desenvolvimento local e regional com o envolvimento de parceiros e grupos de interessados”.
De Timor-Leste
M. Azancot de Menezes, Assessor Nacional do Ministério da Educação, e ex-Pró-Reitor da Universidade de Díli, começou por alertar para a importância de se «perspectivar a universidade de forma complexa, com a inclusão de várias dimensões que a circundam, num processo dinâmico». Segundo Azancot de Menezes, Timor-Leste precisa de «promover Programas de Iniciação científica em todas as Instituições de Ensino Superior, sendo por isso uma questão central e estratégica a contratação de docentes que sejam pesquisadores e contribuam para um ambiente institucional que potencie a pesquisa científica». Nesta linha de raciocínio, o académico timorense referiu que «é urgente a criação de um Repositório Nacional de Ciência e Tecnologia de livre acesso público, para que se possa conhecer os estudos científicos». Uma outra chamada de atenção foi o alerta para a necessidade de «se realizarem cursos de pós-graduação» e para o papel determinante do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) «no desenvolvimento e disseminação do conhecimento científico em Timor-Leste».
O Encontro foi concluído com a excelente Conferência de Encerramento de Maria Helena Nazaré, Presidente da European University Association 2012 – 2015 e Reitora da Universidade de Aveiro 2002 – 2010, com as palavras de agradecimento proferidas pelo Reitor da Universidade Eduardo Mondlane, Orlando Quilambo, e por Luísa Cerdeira, Presidente da Direcção do FORGES.
A 8ª Conferência FORGES terá lugar em 2018, no Instituto Politécnico de Lisboa, com o apoio do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e de outras instituições.