Jean-Claude Juncker, admitiu ontem, numa entrevista à televisão do Senado francês, citada pelo Daily Express, que a França não sofreu sanções das instituições europeias, apesar de ter ultrapassado várias vezes a barreira dos 3 por cento do défice, «porque é a França». É a primeira vez que o polémico líder da CE admite abertamente que as sanções por défice excessivo não são iguais para todos os Estados-membros da União Europeia.
Recorde-se que a União Europeia tem constantemente ameaçado países como Portugal e Espanha com pesadas sanções e cortes imediatos de fundos comunitários por causa do défice excessivo, tendo adiado para depois das eleições espanholas a eventual aplicação dessas sanções este ano.
Paris já ultrapassou barreira de 3% do défice mais de 10 vezes
Por seu turno, a França já ultrapassou o limite dos 3 por cento mais de 10 vezes, desde o início do Euro, tendo, no entanto, a UE feito «vista grossa» a estes «deslizes», ao contrário do que sucede com outros países da Eurozona.
«Conheço bem a França, os seus reflexos, as reacções internas, as suas múltiplas facetas», explicou Juncker, citado pela Reuters, acrescentando que as regras orçamentais não podem ser aplicadas «cegamente».
A França é a segunda maior economia da zona Euro e tem sido agitada, nas últimas semanas, por greves contra as alterações à lei laboral que o governo de François Hollande pretende introduzir. Com o desemprego a rondar os 10 por cento, a França tem um crescimento actual de cerca de 3 por cento, contrastando com os 6 por cento da Alemanha e os 8 por cento do Reino Unido.
O défice gaulês anda nos 3,5 por cento e a dívida pública já ultrapassa os 96 por cento do PIB. No ano passado, Bruxelas deu à França mais dois anos para baixar o défice dos 3 por cento, apesar de Paris ter falhado sucessivamente as metas traçadas pela União Europeia.