Os nacionalistas espanhóis e os partidários locais da continuação do status quo organizaram hoje uma grande manifestação em Barcelona contra a independência da Catalunha.É por isso oportuno lembrar que a competição de manifestações – a minha é maior do que a tua – não substitui, num Estado democrático de direito, o voto livre dos cidadãos. Haverá certamente muita gente na Catalunha que não quer problemas e por isso manifesta-se em favor da ligação com Espanha. É um ponto de vista perfeitamente legítimo e compreensível.
O que não se aceita é que tudo se passe nas ruas, com manifestações pró e contra, cada um tentando mostrar que tem mais apoio do que o outro, numa perigosa escalada de tensões. Essa é a lógica dos regimes autocráticos e ditatoriais, sempre prontos a contrariar as oposições com grandes manifestações promovidas pelo poder.
No auge da oposição às guerras coloniais, Salazar também recorreu a esse instrumento, mobilizando gente de norte a sul do país para uma grande manifestção de apoio ao regime que reuniu um milhão de pessoas no Terreiro do Paço. Qualquer dia, Pútin volta a fazer o mesmo em Moscovo.
Em regimes democráticos, porém, as diferenças de opinião e os conflitos de interesses resolvem-se pelo diálogo, a contraposição livre de pontos de vista e, em última análise, pelo voto. Mais do que promover contra-manifestações em Barcelona, o sr Rajoy faria melhor em negociar com os poderes democraticamente eleitos da Catalunha, um grande referendo para que os catalães se possam livremente expressar nas urnas.
O apoio que Madrid obteve de Vargas Llosa – sempre mais conservador do que propriamente liberal – não exime o governo espanhol dessa responsabilidade – DEIXEM A CATALUNHA VOTAR!