Não se pode negar que o título desse documentário, produzido pela Netflix e dirigido pela jovem brasileira Petra Costa, tem uma dimensão densa e se abre para o espectador, deixando-o com uma pergunta de difícil definição mesmo após assistir ao filme.
No filme, tem algo que em geral não se encontra nas produções cinematográficas. Seu argumento fala e mostra personagens que estão ainda bem vivos e vivendo a realidade do nosso país nos dias atuais. Ou de modo mais particular: os últimos anos da nossa vida política, sem esconder nenhum dos lados e abrindo-se de uma forma íntima para permitir uma real integração na vida contemporânea.
Para mim, é fundamental a exibição pela Netflix para o público do mundo todo, e também pelo fato de estar na internet em streaming, que pode ser visto por quem quiser. Importante: a empresa produtora e exibidora está abrindo a oportunidade de ver documentário até mesmo para quem ainda não é associado.
Petra Costa, com 35 anos de idade, é uma realizadora bem dentro do mundo atual, que vive se movimentando pela globalização. Ela é sócia da Academia Cinematográfica de Hollywood, produz nos Estados Unidos e em outros países e certamente se comporta com naturalidade em todos lugares do mundo.
Filha de pais comunistas, o seu nome é Petra em homenagem ao dirigente comunista Pedro Pomar. Mas pelo clima em que o filme está estruturado sentimos que seu espírito de criação é bem autônomo, buscando crescer e evitando se prender a um só lado, deixando que a narrativa ganhe maior dimensão tanto no argumento quanto na expressão formal.
Petra Costa é formada em Antropologia por uma universidade em Nova York, cursou dois anos em Artes Cênicas e ainda tem uma especialização no tema Trauma. Isso mostra por que seu filme não fica no simples político do tema, mas vai numa visão antropológica e, por isso mesmo, vai narrando e se deixando envolver para se explicar de forma dramática muito mais tranquila.
Democracia em Vertigem tem 1h53 de duração, o que é muito para um documentário, mas consegue instigar o tempo todo a atenção do espectador. Petra tem um documentário sobre sua irmã, Elena, que se suicidou, e com esse filme ganhou o prêmio de Melhor Documentário no Festival de Havana. Consta que o cinema reflexivo de Petra Costa tem influência de cineastas como a francesa Agnès Varda e o italiano Gillo Pontecorvo.
Por fim, é digno de nota que a grande repercussão do Democracia em Vertigem em todo o mundo é uma evidência da veracidade dos fatos da sua narrativa fílmica.
por Celso Marconi, Crítico de cinema, referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8 | Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado
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