Pediu-me o confrade amigo e conterrâneo zambeziano Japone Arijuane que escrevesse alguma coisa sobre o seu Livro. Com muito gáudio o faço espraiando o que me vai na alma ao lê-lo, sendo certo que esta é a visão simultaneamente subjectiva e objectiva de um poeta sobre a obra de outro. Exercício de certo arriscado.
Se é correcto dizer-se que qualquer obra de arte é de uma grande , profunda e infinita solidão, também o é afirmar-se que se o homem olhar para bem dentro de si, adquirirá a consciência da sua magnífica solidão que embora o isole singulariza-o, não o separando todavia do resto da existência.Claramente há no Eu-Poético indeléveis marcas de uma radical solidão interior carregada de vontades “Não tenho senão / essa vontade/ de me reinventar em palavras.”
Estou certo que aquele que é capaz de ouvir o que os outros dizem e não dizem, penetrando no pensamento com uma agilidade mental espantosa, estará sempre em condições de compreender mil e uma coisas diferentes de uma realidade sem nome e sem forma claramente definida.
O elemento pedra adquire aqui uma importância fundamental, que é inaugurada no próprio título do Livro e atravessa a obra lapidarmente. E haverá elemento mais poético que a pedra que só a poesia consegue vitalizar?
Bem o diz o poeta precocemente que “Já quis reformar essa coisa de poeta em mim…”, mas “os pássaros que voam de relance / na minha imaginação / depilam pedra-a-pedra / a minha sensibilidade.”. Não tenho dúvidas disso, comprovadas pela busca incessante na Mafalala dos trilhos galgados pelo Soba e Mestre Craveirinha, como que perseguido fatal e irremediavelmente pelos pássaros que traz e transporta consigo no peito que ora “… são pássaros de fogo e ferro” ora “… de sangue e carne”, e também pela sua indiscutível qualidade poético-literária. Poesia e muita verve, é o que nos oferece o vate Índico que se banhou nos Bons Sinais.
Por isso sente “saudades… / de sentir nos outros / as minhas emoções / emoções que jamais os outros / sentirão por mim…”
Verdade seja dita, os leitores não sentirão emoções pelo poeta, mas certamente sucederá a emoção pela degustação da sua poesia! Estou tão certo disso como São Tomé. Já os vejo deleitarem-se prazerosamente numa qualquer biblioteca ou numa esplanada cultural improvisada ou não em Maputo ou Quelimane.
Apesar da sua escandalosa modéstia ao afirmar “A pureza do papel não me emociona / poderia fazer barcos de papel / poderia fazer barcos de poema / barcos de papel fi-los na infância / os de poema fazem-no os poetas.” Fazem-no os poetas? E ele que é um exímio ladrilhador de palavras?
Como dizia ponderadamente Rilke e faço minhas as suas palavras “… entre em si mesmo e examine as profundezas das quais a sua vida emana; é na sua fonte que encontrará a resposta à pergunta sobre se deve criar. Assuma-a tal como lhe soa, sem dela duvidar. Talvez tenha a demonstração que está destinado a ser artista.”
Não direi portanto nada de novo ao recordar as sábias palavras de Virginia Woolf dirigidas aos jovens poetas que subscrevo inteiramente: Deixe que as suas opiniões e juízos de valor tenham o seu próprio desenvolvimento calmo e imperturbável que, tal como todo o progresso, tem de vir do seu ser mais profundo que não pode ser forçado ou acelerado por coisa alguma. Deixar as coisas chegar ao seu termo natural e depois dar à luz.” Não é o melhor método o não – método? Disso não tenho dúvidas.
Tenho a certeza que os poetas se revelam na generosidade com que se dão aos outros. A escrita sublinha a singularidade e a identidade únicas de cada um, que ficará ou não eternizado no verbo.
Pois como diz o poeta profeticamente “A morte não é o fim / é a indiferença das coisas / à espera do novo dia.”
Tenho a certeza que pela força telúrica do verbo, os ventos lhe serão favoráveis, no nobre desejo que convicto o vate revela “Há / em mim um desejo / de uma pedra / se tornar gente /para em silêncio / se retornar pedra.”
Entretanto, “É no silêncio da pedra / que se espelham as almas”. Mas no silêncio que apela, desafia, entranha, fermenta, grita, impele, interpela, planta, revolve e colherá o fruto inicial da impossibilidade da indiferença no / ao poeta.
Como dizia Kahlil Gibran “Na verdade, falamos apenas para nós mesmos; contudo, falamos por vezes suficientemente alto para que outros nos consigam ouvir.”
Continue pois resilientemente tecendo o pano da vida com os fios do coração!
Bayete Poeta do Índico!!!
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