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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Desafios para o sindicalismo a partir de 2022: mudar radicalmente o rumo do desenvolvimento do país

Clemente Ganz Lucio, São Paulo
Clemente Ganz Lucio, São Paulo
Assessor do Fórum das Centrais Sindicais, professor universitário e sociólogo. Foi diretor técnico do Dieese e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e atuou no Comitê Gestor

As mudanças no mundo do trabalho avançam e a organização sindical vai se distanciando dessa nova dinâmica. É urgente avançar na reestruturação do movimento sindical.

A esquerda somente poderá tirar partido disso
se souber remediar a pane de imaginação que vem sofrendo.
Se quisermos ultrapassar o neoliberalismo,
abrindo uma perspectiva positiva,
temos que desenvolver uma capacidade coletiva
que ponha a imaginação política para trabalhar
a partir das experimentações e das lutas do presente.

Pierre Dardot & Christian Laval, “A Nova Razão do Mundo”

Parte II

  1. E o jogo de curto prazo – 2022?

O processo eleitoral dominará o cenário de 2020, em especial pelo que significa o (des)governo Bolsonaro e diante da sua pretensão de reeleição, que conta hoje com apoio de parcela da sociedade.

A única alternativa para um projeto alinhado com as diretrizes acima exige a eleição de um governo alinhado com as diretrizes acima, que tenha um projeto de desenvolvimento para o país. Essa será a disputa central que configurará nosso futuro como nação. Diretamente associada a ela está a conformação de uma bancada no Congresso Nacional disposta a sustentar no Legislativo o projeto de país que sair das urnas.

Portanto, em 2022 a disputa eleitoral deve ser a prioridade primeira da sociedade civil organizada, por tudo que representa a continuidade do (des)governo Bolsonaro em termos de regressão econômica, social e política e o que pode significar um novo governo oriundo do campo da esquerda.

Essa prioridade será construída em um contexto situacional no qual:

  • A inflação estará no início do ano na casa dos 10%, tendendo a queda ao longo do ano. Isso tem trazido, e trará, severas dificuldades paras as negociações, onde quase 2/3 delas não conseguem repor a inflação acumulada.
  • O aumento dos preços se materializa no alto custo de vida, ou seja, na carestia para grande parte da população. Mesmo que a inflação volte para o centro da meta inflacionária, o custo de vida e a carestia ficarão altos.
  • O desemprego está na casa dos 13%, com mais de 30 milhões de pessoas formando o contingente de desempregados + os desalentados + os inativos + os subocupados.
  • O governo jogara com a folga fiscal de R$ 100 bilhões decorrente da PEC 23 (Precatórios) para buscar a sua reeleição.
  • A economia terá novamente um baixo crescimento – hoje estimado na mediana de 0,7% para o ano. O Banco Central atuará elevando os juros, portanto, colocando o pé no freio do crescimento econômico.
  • O dólar deve permanecer na casa dos R$ 5,50, o que representa alto custo dos insumos importados e pressão dos preços dos combustíveis.
  • No jogo político continuará a busca da “terceira via” e sua viabilização. A grande imprensa joga peso no processo eleitoral, hoje com audiências mais distribuídas entre as grandes redes. Já as redes sociais focarão novamente com todos os riscos, nas fake news e há dificuldade de controlá-las. A Justiça Eleitoral terá papel essencial. Lutar por eleições livres e transparentes é uma ação fundamental.
  • Seria muito importante construir uma vitória nas eleições do campo democrático já no primeiro turno, o que exige um arranjo político (nacional e estados) nada trivial, complexo e com abertura para acordos que não serão simples de se materializar.
  • Teremos ainda que seguir com os cuidados para enfrentar os desdobramentos da pandemia, sejam decorrentes das novas ondas que poderão requer iniciativas oudo surgimento de novas cepas. Lutar por investimentos em pesquisa de medicamentos e liberação da produção de genéricos; pela garantia da 3ª dose da vacinação e das doses necessárias em 2022, divulgar a necessidade de uso de máscara, de manter distanciamento e higienização constante das mãos são algumas das ações necessárias.
  • O enfretamento da retomada da atividade econômica frente ao travamento das cadeias de fornecedores, as dificuldades de fornecimento e de custos, entre tantos outros desafios, exigem ações coordenadas que inexistem no país.
  1. O que esperar para 2023

Um novo governo assumirá em 2023 em um contexto de grande adversidade:

  • O país terá completado quase uma década de uma economia de baixo crescimento, duas duras recessões e uma dinâmica produtiva rastejante, que levou ao empobrecimento da milhões de brasileiros. Será decisivo uma iniciativa rápida e ousada nesse campo, como indicado acima.
  • A situação fiscal não estará fácil, com o teto do gasto colocando os mais variados limites para a ação do novo governo. A receita fiscal está em patamar semelhante ao de 10 anos atrás, contudo a despesa aumentou.
  • Lula assumiu em 2003 com superávit fiscal de 2,3% do PIB. Estima-se que em 2023 o país terá um déficit fiscal que pode chegar a 2% do PIB.
  • Investimento público destruído em todas as áreas.
  • Crises ambiental (desmatamento, queimadas, Amazônia, etc.), social (pobreza, fome, miséria, desemprego), econômica (carestia, anemia da demanda, falta de investimento), relações internacionais esgarçadas.

As fraturas que recepcionarão o novo governo exigirão uma resposta rápida, ousada e inovadora. A “pane de imaginação” precisa ser superada, o tempo corre e há muito trabalho no curtíssimo prazo para eleger um novo governo em 2023, para criar e articular um projeto ousado para ser implementado já nos primeiros 100 dias de governo.

Vencida a eleição, será preciso garantir a posse, em uma transição que será intencionalmente tumultuada (a hipótese aqui é de vitória do campo democrático, situação que exigirá muito trabalho).

  1. Desafios para a organização sindical

Por fim, vamos pensar os desafios para a organização sindical.

As mudanças no mundo do trabalho avançam e a organização sindical vai se distanciando dessa nova dinâmica. É urgente avançar na reestruturação do movimento sindical.

Por isso, cabe ao movimento sindical, desde já:

  • Assumir um protagonismo transformador da sua organização (reestruturação sindical).
  • Declarar que a reestruturação é e será um projeto e um processo desenvolvido nos marcos e espaços da autonomia da classe trabalhadora.
  • Definir que asas diretrizes que orientarão a reestruturação serão:
    • Ampliar a representação para abranger todos os trabalhadores.
    • Promover ampla sindicalização aumentando a representatividade sindical.
    • Favorecer a unidade e a agregação no espaço da liberdade sindical.
    • Valorizar a negociação coletiva, inclusive no setor público.
    • Criar mecanismos ágeis de solução de conflito.
    • Criar um sistema sindical e de relações de trabalho com a mínima interferência do Estado.

Por fim, cabe destacar que essas tarefas precisam ser viabilizadas desde já. Não há tempo para perder, muito menos gastar tempo em disputas interna. É tempo de olhar a floresta, sabendo que há árvores. É tempo de construir um projeto para dar vida à floresta. Se houver vida na floresta, poderemos cuidar de cada uma das árvores. Destruída a floresta, as árvores perecerão junto.


Texto em português do Brasil

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