Centrada na mágoa que insistia em torturá-la, vivia aos farrapos, com o íntimo estilhaçado como vidro que se esbarra com a decepção, irritava-a o Sol que a beijava reflectindo nela toda frustrada jogada.
Tinha firmeza no olhar e postura no andar, sua alma vadiava no nada, perdia-se no vazio entre ilusão e realidade, às vezes fugia de tudo e refugiava-se em outros abraços mendigando orgasmos e silêncios…
Por fora viva, por dentro moribunda, sabia sorrir, apenas tinha perdido a prática, nunca se zangava… Não precisava…
Em uma mão um punhal e na outra sementes de alegria que espalhava em terrenos proibidos quando não tinha de ser defensiva.
Nunca quisera vingar-se, o seu ser não o permitia, e já não queria sentir aquele martírio que insistia em instalar-se no interior, às vezes a anestesiava com safras de cevadas, mas às vezes parecia que a mágoa sabia nadar …
Às vezes orava fervorosamente mas as palavras dissolviam-se nas lágrimas derramadas, depois aprendera a conviver com o miserável inquilino que se confundia entre o ódio e a virtude, tinha de praticar o desapego… varreu todas as fotos e emoldurou a preferida; do seu cheiro não conseguiu livrar-se tinha-o entranhado na pele…
Um dia, do nada acordou vazia, fechou os olhos e instintivamente caminhou para o espelho e viu sua alma vazia e nua, sua mente sem saudades e sem memória… germinaram-lhe asas, no rosto sentiu o aroma da superação trazido pelo novo dia que nasceu recheado de atitude.
Tinha ressuscitado… e estava preparada, outra vez… para morrer de amor…
Mãe dos Setinhos
A autora escreve em PT Angola