O Dia Nacional da Trabalhadora Doméstica – 27 de abril – traz reflexões sobre o trabalho desempenhado por 6,2 milhões de pessoas no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Informações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), colocam o Brasil como o país como o maior número de trabalhadoras domésticas. E essa data é uma homenagem à Santa Zita, canonizada em 1696, a padroeira das domésticas. Mas elas têm o que comemorar nesta terça-feira?
Para a dirigente do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas do Município do Rio de Janeiro, Alicia Pereira, não há o que comemorar porque “a reforma trabalhista trouxe enormes perdas para a categoria” que conquistou a Lei das Domésticas (aprovada em 2013 e regulamentada em 2015) “após anos de luta”, diz.
O IBGE mostra também que 92% dessa categoria são mulheres e 68% são negras. O que já era difícil ficou pior porque “a reforma trabalhista dificultou muito a contratação de domésticas com carteira assinada”, revela Alicia. O IBGE comprova isso porque entre as 6,2 milhões de trabalhadoras, em 2019, 4,4 milhões não tinham carteira assinada.
Somente em 2020, mais de 1,5 milhão de trabalhadoras domésticas perderam o emprego. “Com a pandemia a situação piorou porque muitos patrões demitiram ou exigiram que as trabalhadoras ficassem no trabalho o tempo todo, longe de suas famílias”, argumenta.
Muitos estados consideraram o trabalho doméstico como essencial, colocando alto risco de contágio à categoria. Tanto que a primeira vítima da covid no Brasil foi a doméstica Cleonice Gonçalves, de 63 anos, contaminada pelos patrões recém-chegados da Itália, em março do ano passado.
Outra questão descrita por Alicia refere-se ao trabalho análogo à escravidão e à exploração do trabalho infantil, já que o país tende a retomar a prática de famílias levarem para suas casas crianças – como se fossem da família – “para trabalharem quase como escravas, muitas vezes”, reforça.
Como aconteceu com Madalena Giordano, mantida praticamente em cativeiro desde os 8 anos de idade em Patos de Minas (MG), resgatada neste ano, aos 46 anos.
“As pessoas não respeitam o trabalho doméstico como deveriam e só acham que é essencial agora na pandemia, mas para pagarem salários dignos e os nossos direitos trabalhistas não defendem que seja essencial”, argumenta Alicia.
Nem a ratificação da Convenção 189, da OIT, que trata da regulação do trabalho doméstico, feita pelo governo brasileiro em janeiro de 2018 pôde reverter esse quadro.
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Kátia Branco, secretária da Mulher da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, seção Rio de Janeiro (CTB-RJ), afirma que a possibilidade do contrato intermitente e da terceirização ilimitada “prejudicam as trabalhadoras domésticas porque a crise as deixa como em décadas passadas sem força para negociar melhores salários e condições de trabalho”.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2018, revela a renda média mensal das trabalhadoras domésticas no país. As mensalistas com carteira assinada ganhavam R$ 1.296, as diaristas com carteira recebiam R$ 1.349,50. Já as trabalhadoras sem carteira assinada recebiam em média R$ 692,30 (mensalistas) e R$ 712,30 (diaristas).
Alicia anuncia que “essa média salarial pode ter piorado, antes mesmo da pandemia, porque o desemprego cresce ano a ano e como as pessoas precisam trabalhar acabam se submetendo a condições precárias de trabalho”.
Para Kátia, “o trabalho doméstico não pode entrar na lista das atividades essenciais durante a pandemia e o certo seria que os patrões pagassem os salários para que essas trabalhadoras pudessem ficar em casa sem se expor a riscos”.
Texto em português do Brasil
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