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Domingo, Novembro 3, 2024

Dia Mundial de Alimentação: é preciso combater o aumento da fome

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Em 1979, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Mundial da Alimentação em 16 de outubro. Tudo porque nessa data, em 1945, foi fundada a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), justamente com o objetivo de chamar a atenção para a necessidade de extirpar a fome do Planeta.

Neste ano, o slogan da campanha é “Dietas saudáveis para um mundo de #FomeZero” – bem apropriado ao momento em que aumenta o número de famintos no planeta redondo que gira em torno do Sol. Mais de 150 países comemoram essa data. “Devemos ressaltar a data neste momento em que o governo brasileiro aplica o neoliberalismo, acabando com nossos sonhos de uma alimentação saudável e adequada a todos os brasileiros”, afirma Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Segundo o relatório “O Estado de Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2018”, da FAO, a fome atingiu 821 milhões de pessoas em 2017, ante 815 milhões de famélicos em 2016. As estimativas são de crescimento desses números porque vários países adotaram as políticas recessivas e ultraliberais determinadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Apesar de milhões de subnutridos, de acordo com a FAO 672 milhões de adultos estão obesos no mundo.

Aliado a isso, o relatório “Recompensem o trabalho, não a riqueza”, da Oxfam, mostra que a concentração de riquezas ganha contornos insuportáveis. Segundo a ONG, em 2017, 82% de toda a riqueza gerada no mundo foi para os bolsos dos 1% mais ricos do planeta. Já a metade mais pobre da população no mundo – 3,7 bilhões de pessoas – ficou a ver navios, sem nem um centavo.

“Enquanto for mantida a lógica do capital em sua exploração sobre o trabalho, a fome persistirá”, analisa Vânia. Justamente porque “a ganância da burguesia está destruindo o planeta e as pessoas com verdadeiros atentados à segurança alimentar”, complementa.

Ela realça a liberação de uso de mais de 400 agrotóxicos pelo presidente Jair Bolsonaro. “O atual governo corta investimentos nas áreas sociais, como saúde, educação, direitos humanos, cultura e agricultura familiar e favorece os grandes produtores, perdoando dívidas com o governo e permitindo o envenenamento de nossa comida”, diz.

O relatório da FAO mostra que há 5,2 milhões de famintos no Brasil – e esse número vem crescendo ano a ano desde 2014. O Brasil – que havia saído do Mapa da Fome da ONU – está retornando a ele com velocidade espantosa. O estudo mostra que a curva de desnutrição voltou a crescer no país, assim como a prevalência de anemia em mulheres em idade reprodutiva. O índice de recém-nascidos abaixo do peso se manteve em 8,4%.

“As políticas defendidas pelo governo brasileiro”, acentua Vânia, “fazem a situação piorar. Não se desenvolve uma política para a criação de empregos e se extinguem as conquistas da classe trabalhadora e a população mais pobre”. Segundo a sindicalista, para combater a miséria e a fome, é necessário “termos políticas de incentivo à agricultura familiar para melhorarmos a produção de alimentos sem a utilização de agrotóxicos”. Ela lembra que a agricultura familiar é responsável por 70% da produção de alimentos no País. “Precisamos cuidar da comida que chega à mesa dos brasileiros.”

Para ela, “o uso intenso de agrotóxicos produz alimentos contaminados que adoecem a população”. Além disso, “a monocultura, própria dos latifundiários e do agronegócio, no qual se se emprega o maior número de agrotóxicos prejudica a nossa alimentação e também a diversidade biológica, empobrecendo a terra e diminuindo a vida no campo”.

O abandono das políticas públicas faz a desigualdade social crescer no Brasil a olhos vistos. A pesquisa FGV Social, da Fundação Getúlio Vargas, aponta que a diferença entre ricos e pobres cresceu no 2º trimestre de 2019 pelo 17º trimestre consecutivo. O índice Gini – que mede a concentração de riquezas – passou de 0,6003 no 4º trimestre de 2014 para 0,6291 no 2º trimestre de 2019 (quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade). Conforme o estudo, de 2014 a 2019 a renda do trabalho da metade mais pobre da população caiu 17,1%, enquanto a renda dos 1% mais ricos subiu 10,11%.

“Todo esse caos é fruto das políticas neoliberais dos governantes do pós-golpe de Estado de 2016”, assinala Vânia. “Eles vieram para destruir as conquistas do povo brasileiro e governar para os ricos. Bolsonaro é ainda mais radical, entregando o país de bandeja ao imperialismo norte-americano”.

Para acabar com a fome no planeta, a sindicalista afirma ser necessário uma reforma agrária que garanta a posse da terra às trabalhadoras e aos trabalhadores do campo, com políticas que favoreçam a permanência da juventude, além de “assistência técnica, acesso ao crédito, tecnologias sociais e incentivo para a organização da produção.” Isso porque o agronegócio é monocultor e visa principalmente a exportação.


Texto em português do Brasil


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