Entre 2014 e 2021 as remunerações médias brutas dos trabalhadores do estado aumentaram em média em Portugal apenas 72€ (+4,7%) enquanto na União Europeia a subida foi de 536€ (+21,3%) e nos chamados países “frugais”, na Alemanha +1104 (+30,2%) e na Holanda +508€ (+21%), e ainda criticam Portugal exigindo mais contenção na despesa publica
Neste estudo, utilizando dados do Eurostat, portanto oficiais e disponíveis a qualquer leitor, analiso a remuneração média dos trabalhadores do Estado em Portugal e nos países da União Europeia, assim como o aumento verificado entre 2014 e 2021, e mostro que Portugal, no lugar de convergir para a média da União Europeia, está a divergir fortemente (em 2014, em Portugal correspondia a 60,7% da média da U.E. e, em 2021, apenas a 52,4%). E o governo de António Costa ainda fala de Agenda de trabalho digno.
Estudo
Entre 2014 e 2021 as remunerações médias brutas dos trabalhadores do estado aumentaram em média em Portugal apenas 72€ (+4,7%) enquanto na União Europeia a subida foi de 536€ (+21,3%) e nos chamados países “frugais”, na Alemanha +1104 (+30,2%) e na Holanda +508€ (+21%), e ainda criticam Portugal exigindo mais contenção na despesa publica
Numa altura em que os sindicatos das Administrações Publicas (Central, Local e Regional) reúnem-se com o governo para negociar os aumentos das remunerações dos trabalhadores em 2022, é importante conhecer o que tem acontecido, neste campo, nos países da União Europeia pois, em Portugal a perda de poder de compra dos funcionários públicos tem sido enorme, o que está a causar a destruição da Administração Publica, e a torná-la incapaz de responder às necessidades da população em serviços públicos, de que é exemplo mais visível o estado de degradação a que chegou o SNS. Entre 2009 e 2022, a Tabela Remuneratória Única dos trabalhadores da Função Pública teve apenas dois aumentos ridículos, um de 0,3% em 2020 e outro em 2022 de apenas 0,9%. Em 2013, Vitor Gaspar/Passos Coelho/Portas e “troika” realizaram um enorme aumento do IRS que ainda não foi totalmente revertido que reduziu as remunerações líquidas e, entre 2009 e 2022, o aumento de preços atingirá 22,7% (previsão feita com base nos dado INE). E para além de tudo isto, há ainda acrescentar o enorme aumento de 133% do desconto para ADSE (de 1,5% para 3,5%). É a destruição da Administração Publica que está em marcha, pois os trabalhadores mais competentes estão a abandoná-la para irem trabalhar no setor privado e, ao mesmo tempo, a Administração Publica tem sido incapaz de contratar trabalhadores qualificados e com as competências que necessita para poder fornecer aos portugueses os serviços públicos de qualidade que estes precisam (saúde, educação, segurança social., transportes públicos, policia, gestão de fundos comunitários).
ENTRE 2014 E 2021, A REMUNERAÇÃO MÉDIA BRUTA DOS TRABALHADORES DO ESTADO AUMENTOU EM PORTUGAL APENAS 72€ ENQUANTO A SUBIDA MÉDIA NA UNIÃO FOI DE 536€, OU SEJA, 15 VEZES MAIS
Os dados do quadro 1, são do Eurostat (serviço oficial de estatística da U.E.) acessíveis a qualquer leitor.
Quadro 1 – Remuneração média ilíquida (antes de descontos)dos trabalhadores da Administração Pública Central (Estado) nos países das União Europeia
Como revelam os dados do Eurostat, entre 2014 e 2021, a remuneração média no Estado aumentou em Portugal apenas 72€ (+4,2%), enquanto o aumento médio nos países da União Europeia foi de 536€ (+ 21,3%). Em 2014, a remuneração dos trabalhadores do Estado em Portugal era 1529€ e na União Europeia (U.E.) 2519€, o que significava que a remuneração em Portugal representava apenas 60,7% da média da U.E. Entre 2014 e 2021, esta situação piorou ainda mais. Em 2021, a remuneração media dos trabalhadores do Estado em Portugal era apenas 1601€ (+72€ do que em 2014), mas a remuneração média na U.E. já era 3055€ (+ 536€ do que em 2014), o que significa que a remuneração média em Portugal correspondia apenas a 52,4% da média dos países da União Europeia (-13,5% do em 2014). Portugal no lugar de convergir para média da U.E. está a divergir fortemente. E António Costa ainda fala de Agenda de trabalho digno. A mesma divergência verifica-se no setor privado até com o exemplo dado pelo governo, o que é importante ajuda para os patrões privados.
A PREVISÃO DA ESCALADA DE PREÇOS EM PORTUGAL ATÉ AO FIM DO ANO CAUSADA PELA PANDEMIA E PELA CONTINUAÇÃO DA GUERRA NA UCRÂNIA, E A SITUAÇÃO INSÓLITA DOS CHAMADOS “PAISES FRUGAIS” (Alemanha e Holanda) QUE SE APROVEITARAM DA CRISE DE 2011/2015 PARA OBTER LUCROS À CUSTA DOS PAISES DO SUL (inclui Portugal), E QUE AGORA PEDEM A SOLIDARIEDADE DESTES PAÍSES PARA ABDICAREM DE UMA PARCELA DO GÁS DO QUE ADQUIRIRAM, À CUSTA DO AGRAVAMENTO DAS AS CONDIÇÕES DE VIDA DA SUA POPULAÇÃO E DA SUA ECONOMIA, PARA PODEREM ENFRENTAR COM MENOS SACRIFICIOS UM EVENTUAL CORTE DO GÁS RUSSO
Não deixa de ser insólito que aqueles países que mais criticaram Portugal na crise de 2011/2015 acusando-o de ser esbanjador, e que mais defenderam a politica da “troika”, e que não manifestaram qualquer solidariedade com Portugal e com os portugueses, tendo-se mesmo aproveitado da situação para embolsar elevados lucros a custa do nosso país (obtiveram empréstimos nos mercados financeiros a juros baixos que depois emprestaram a Portugal, através da U.E., cobrando taxas de juro que eram o dobro ou mais das que pagavam), façam aumentos de remunerações entre 21% e 30%, e que agora continuam a exigir a Portugal ainda mais contenção na despesa pública, nomeadamente em relação aos salários dos trabalhadores da Função Pública e às pensões dos reformados da Segurança Social e dos aposentados da CGA. E para além disso, pela mão da alemã Ursula Gertrud von der Leyen, presidente da Comissão Europeia pretendam impor que Portugal ceda a esses países, por solidariedade, que em 2011/2015 não tiveram como o nosso país, parte das importações de gás que Portugal contratou impondo mais sacrifícios, para além da escalada de preços, aos portugueses e à economia nacional. Será que António Costa, que tem normalmente entradas de leão, como aconteceu recentemente em relação à proposta da Comissão Europeia recusando qualquer corte no gás que Portugal já contratou, terá saídas de cordeirinho como normalmente sucede (recorde-se a sua posição em relação à adesão da Ucrânia à U.E. e depois a sua aceitação).
Para que os leitores possam ficar uma ideia da escalada de preços que vai continuar, e como ela vai agravar enormemente a vida de todos os portugueses, apresenta-se seguidamente uma previsão do aumento de preços até ao fim deste ano, tomando como base a inflação divulgada pelo INE até junho de 2022.
Ao ritmo que tem aumentado os preços este ano em Portugal até junho, em dezembro de 2022 os preços serão superiores aos de dezembro de 2021 em 11,9%, ou seja, a inflação homóloga. E a taxa média anual do aumento do IPC (de inflação) será de 8,2%, o que é um valor muito elevado se compararmos com as subidas nas remunerações dos trabalhadores da Função Pública este ano (apenas 0,9%), dos pensionistas da Segurança Social e da CGA (entre 0,24% e 1,1%) e dos trabalhadores do setor privado em que segundo o INE, entre mar/2021 e mar/2022, a remuneração bruta total aumentou apenas 2,2% 2 e a remuneração bruta base 1,6%.
Se juntarmos a isto cortes no gás e na eletricidade (pois grande parte é produzida utilizando gás) que a Comissão Europeia quer impor à economia e aos portugueses e a continuação da especulação nos combustíveis que o governo nada faz para controlar (a GALP acabou de apresentar as suas contas referentes ao 1º sem.2022 com um lucro de 420 milhões € quando, no 1º sem.2021 os seus lucros tinham sido de 166 milhões €). Não há dúvida do que a crise e pobreza está a ser aproveitada por empresas, como a GALP, para enriquecer enormemente os seus acionistas Para terminar este estudo sobre o agravamento das condições de vida dos portugueses causada pela continuação da guerra que parece que ninguém tem interesse em encontrar uma solução para a terminar, e como o INE já publicou o Anuário Estatístico de 2021, retirei dele os valores das pensões medias pagas pela Segurança Social para que se possa ficar a saber, pois os dados são muitos atuais, a situação de miséria em que vivem milhões de portugueses, que é agravada pela escalada de preços perante a indiferença e passividade do governo que se limita a fazer promessas mas que nada faz para apoiar os mais pobres. E o presidente da República faz o mesmo.
Quadro 1 – As pensões medias pagas pela Segurança Social e número de pensionistas a receberem estas pensões
Os comentários são inúteis perante a linguagem fria e clara dos números, que por trás deles estão milhões de portugueses que vivem muitos na extrema pobreza.