Poemas de Delmar Maia Gonçalves
LIII
E se inconformados formos
renasceremos das cinzas da tristeza
inundando o deserto com esperança!
“Dois cravos..”
Dois cravos sobre a mesa
um para mim e outro para a Hiena
Eu nunca fui uma pedra no jardim,
nem uma estrela no céu ou uma pena simples na asa das nuvens
Eu era uma alma nómada como os fumos
pairando no isolamento dos seres ,
entrando embrenhado nos olhos embaciados do mundo
Eu não tinha terra
A minha presença era a ausência,
a nulidade da multidão ausente
a ausência das ausências
Fui sempre o silêncio das fontes,
o silêncio do silêncio,
o murmúrio das pedras em terra queimada
e a revelação real da terra devastada
Deixai-me pois
deixai-me!
E fechai-me como um nulo livro de crónicas
de um anónimo qualquer!
“Mestiço”
Que condição
esta de ser
o que sou…!
Para ser africano pleno
tenho de admitir ser
o que não sou
Para ser europeu
de corpo inteiro
tenho de fingir
e procurar ser
o que não sou.
Que dilema este
de ser o que sou
sendo o que não sou!
“Não sou mais eu…”
Não sou mais eu
quem grita de raiva por todas as injustiças cometidas no passado
Não sou mais eu
quem grita a dor das perdas ancestrais
Não sou mais eu
quem chora os exílios forçados no presente
Não sou mais eu
quem vibra com as pequenas vitórias alcançadas na vida
Sou apenas e só
um porta-voz involuntário
de uma situação que se gerou!
XXXIV
Nações inteiras se diluem
na poeira do tempo perdido
Montes e planícies permanecem.
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