Tudo sobre a minha mãe
Integrada na retrospectiva que o LEFFEST dedicou a Barbet Schroeder, tivemos oportunidade de conhecer a sua última obra, Amnésia, e confrontá-la até com o seu filme de estreia, More, datado de 1969. Afinal de contas, são dois registos que se tocam pela mesma latitude geográfica, pois ambos foram rodados na ilha de Ibiza, paradeiro irremediavelmente ligado à sua família, em particular à sua mãe, que escolheu esse local como retiro após o desencantamento da Alemanha saída da 2ª Guerra Mundial. De resto, estas duas películas tão ligadas entre si foram apresentadas este ano em Cannes numa sessão especial. Ou seja, tivemos então a redescoberta de Ibiza, algures entre um psicadelismo experimental e um chill encantado.
Em Amnésia o realizador suíço nascido em Teerão centra a relação entre Martha (Marthe Keller), uma mulher madura, nos seus 70 anos, de hábitos frugais, e Jo (Max Riemelt), um jovem de 25 anos que se instala na villa próximo da sua, perseguindo o sonho de ser DJ no clube Amnésia, o mais famoso da ilha. Vem a saber-se, entretanto, pela visita de familiares dele, a razão pela qual Martha abdicara da sua língua materna, do usar carros germânicos e até beber vinho alemão. No fundo, uma forma se fazer esquecer todo o trauma do nazismo.
Já em More, a acção decorre no ano de 1990, um ano após a queda do Muro de Berlim, na mesma villa isolada junto ao mar e sem electricidade que testemunhara, no final dos anos 60, todo o período de experimentação e contracultura hippie, em More.
Temos então, a testemunha de dois romances singulares vividos na mesma villa junto ao mar. De um lado, a mera troca de afectos platónicos, sem um beijo sequer, entre Jo e Martha; do outro, o erotismo livre e psicadélico entre Estelle (Mimsy Farmer) e Stefan (Klaus Grunberg), feito de experimentação própria do final dos alucinados anos 60. Se num caso (Amnésia), não chegamos a ter propriamente o ritmo house que afirmou os DJ’s de Ibiza, ainda assim, temos a procura da pureza do som e a sua amplitude ecoada na verdadeira disco Amnésia; já em em More, vivemos acompanhado elo tecido musical do som dos Pink Floyd que deu origem à banda sonora (e ao disco) Obscured by the Cluds.
Existem ainda momentos de grande cinema em Amnésia, como aquele em que Jo e Martha criam uma pequena animação a partir de sombras chinesas que a luz projecta na parede. Só por si, mas não apenas, faz do último Schroeder um filme que se destaca dos demais. More não deixa de ser interessante.
A nossa Opinião (de * a *****)
Amnésia ****
More ***