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Segunda-feira, Novembro 18, 2024

Trump: “A Europa é inimiga dos Estados Unidos”

José Mateus
José Mateus
Analista e conferencista de Geo-estratégia e Inteligência Económica

Mesmo se, na sequência, Trump esclarece e relativiza bastante o termo “inimigo”, a “bomba” está lançada: o mundo mudou e, se ainda não totalmente, já mudou muito…
É claro que a NATO vai continuar a arrastar a sua existência mas há uma concepção do mundo que faleceu. A nascida da vitória americana de 1945 sobre a Alemanha e o Japão. Talvez porque o seu tempo já terminara e o mundo dessa concepção já desaparecera, finado com o século XX. Obama não teve, em dois mandatos, tempo para se ocupar disso (nem realmente de nada…) e Bush Júnior esteve sempre ocupado com a sua “guerra ao terrorismo” na sequência da tragédia do “11 de Setembro”. Nestas duas décadas, o mundo “pulou e avançou” e deixou de ser aquele que era na segunda metade do século XX. Trump chegado à Casa Branca ter-se-à apercebido disso e, com a sua especial subtileza de elefante em loja de finíssima porcelana, decidiu pôr tudo “em pratos limpos”… E, claro, a finíssima porcelana está a ficar em cacos.

Do que se pode observar, há ilações a tirar: Trump, na melhor tradição westfaliana, dá prioridade absoluta ao interesse nacional americano (se o define bem ou não é outra questão…), considera que a maior parte (ou serão todos…?) dos actuais organismos intergovernamentais e multilaterais não são o melhor quadro para a prossecução dessa prioridade (e prefere, portanto, as relações bilaterais) e não dá qualquer importância ao que as opiniões públicas estrangeiras possam “pensar” disso (o que depois do fracasso do “charme” de Obama se pode perceber sem grande dificuldade).

Se, depois de discursos quase de subserviência, como o tristemente famoso “discurso do Cairo”, Obama apenas conseguiu que ninguém o tomasse a sério (nem um pobre diabo como Assad!), é porque a estratégia de se “fazer amar” não tem cabimento e, portanto, não pode funcionar. De resto, como Maquiavel muito bem explicou, ao Princípe é mais conveniente ser temido do que amado. Se não pode juntar as duas coisas, então, ao menos que seja temido. E toda a actuação de Trump (uma actuação que a sua personagem serve muito bem) aponta para que, tendo tirado as lições do fracasso de Obama em fazer-se amar, o actual Príncipe da Casa Branca tenha optado por fazer-se temer. É, porém, ainda cedo para dizer se o conseguirá.

Para os europeus mais obtusos e mais dominados pela inércia que não tivessem (mesmo depois desta cimeira da NATO) percebido as linhas com que vão coser-se ou ser cosidos, neste novo mundo emergente, Trump deixou-lhes ontem todas as explicações necessárias numa singular e, até há bem pouco tempo, inconcebível entrevista: 

 

 

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