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João de Sousa

Sábado, Novembro 2, 2024

Doutor Jivago mostra o drama da elite russa pós revolução

A Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa de 1917 servem de cenário para a história de amor entre o jovem médico aristocrata Yuri Jivago e Lara Antipova, uma enfermeira plebeia. Um amor embalado pelo inesquecível “Tema de Lara”, mega-hit na época do compositor francês Maurice Jarre.

Yuri Jivago e Lara Antipova se conhecem na época do império czarista e se reencontram por acaso no atendimento às vítimas da Primeira Guerra Mundial.

Ao voltar para casa Jivago percebe que sua vida não é mais a mesma. A Revolução Russa havia posto fim à propriedade privada “socializando” a bela casa que o médico dividia com a esposa Tonya e o sogro.

O filme parte do ponto de vista do drama da elite russa que, de uma hora para outra, se vê em decadência na recém-criada União Soviética. A cena que mostra pessoas do povo apropriando-se dos bens da alta sociedade é uma caricatura do pesadelo que assombra a burguesia na sociedade capitalista. Nesta cena uma senhora afirma à Jivago que aquela era uma casa grande o suficiente para treze famílias.

O narrador, que conta a história em flash back, pondera logo no início: os homens que querem ir para a batalha, seja a guerra, seja a revolução, são os homens infelizes. Os felizes, realizados no amor, na família e no trabalho, esperam que não sejam lembrados na hora da convocação, e ficam contentes se, algum motivo os impede de ir a campo.

Esse comentário traz a ideia de indivíduo e seu universo particular, que é cara ao embate ideológico entre capitalismo e socialismo. O que estava em questão, para a burguesia russa, eram seus hábitos e suas idiossincrasias. E a justiça social não estava neste horizonte.

Por outro lado, há certa legitimidade na crítica de Pasternak ao regime no qual até a arte se tornou propaganda oficial, descartando expressões subjetivas. Em muitos aspectos Doutor Jivago é um filme anticomunista. Mas, é importante ressaltar que ele é abordado a partir da visão de alguém que sofreu na pele as transformações radicais e o endurecimento necessário para a instauração do regime. Não se trata de uma visão ampla, distanciada, que pondera o efervescente movimento internacional de então, ou a precariedade da vida popular na Rússia sob o poder dos czares. Neste sentido pode-se dizer que Doutor Jivago trata do sacrifício de alguns por uma grande transformação. Seu cenário é um grande acontecimento histórico, que se estendeu por mais de setenta anos, e que trouxe uma nova perspectiva social para o mundo.

Doutor Jivago, baseado no romance homônimo de Boris Pasternak, evita criticar diretamente o socialismo soviético, conferindo à obra um teor romântico. Mesmo assim o filme foi censurado.

Doutor Jivago (Doctor Zhivago)
EUA/Itália, 1965
Direção: David Lean
Elenco: Omar Sharif, Geraldine Chaplin, Julie Christie, Tom Courtenay, Alec Guiness, Siobhan McKenna, Ralph Richardson, Rod Steiger, Rita Tushingham


Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial Rádio Peão Brasil / Tornado

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