(N. 1926)
Uma mulher intelectualmente e humanamente muito marcante. Esteve sempre presente nas lutas contra o fascismo. Com estreita ligação à Seara Nova e a alguns movimentos políticos na Oposição. Foi uma das fundadoras do MDM – Movimento Democrático de Mulheres (1969).
Dulce Oliveira de Sousa Rebelo Fernandes é uma prestigiada pedagoga, investigadora e professora universitária, que se destacou durante a ditadura fascista também pela sua actividade cívica e política. Licenciada em Filologia Clássica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1950). Diplomada em Ciências Pedagógicas pela Faculdade de Letras de Lisboa (1952). Diplomada em Psicologia (D.E.A.) pela École Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris (1981). Doutorada em Psicolinguística pela École Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris (1984). Foi Leitora de Cultura Portuguesa, em Inglaterra, na Universidade de Leeds de 1956 a 1959.
Em 1960 casou com Blasco Hugo Fernandes, engenheiro agrónomo, figura prestigiada da luta antifascista (ver biografia).
Afastada do ensino, seguiu a carreira de investigação
Em 1968 foi compulsivamente afastada do ensino público, ao abrigo do Decreto-lei n.º 25.317 de 13 de Maio de 1935, que mandava “aposentar, reformar ou demitir os funcionários ou empregados, civis ou militares, que tivessem revelado espírito de oposição aos princípios fundamentais da Constituição Política ou não dessem garantia de cooperar na realização dos fins superiores do Estado”. Na sequência daquela medida, a PIDE interrogou-a durante 9 horas seguidas.
Em Novembro de 1968 concorreu a uma bolsa para estagiária no “Centro de Investigação Pedagógica” F. C. G. tendo ficado classificada em primeiro lugar e, em 1971, foi admitida no quadro permanente da Fundação Calouste Gulbenkian, onde seguiu a carreira de investigação. Em 1973, organizou, nessa Instituição, com uma equipa de investigadores, o primeiro “Encontro de Linguística” com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros. Nesse encontro apresentou uma comunicação sobre Psicolinguística que teve grande repercussão nos meios científicos e universitários.
Desde cedo, Dulce Rebelo revelou grande dedicação à luta contra o regime, pela Democracia e pela emancipação feminina. Integrada na oposição democrática, desenvolveu sempre intensa actividade. Na juventude pertenceu ao MUD Juvenil. Em Maio de 1969, participou na reunião da Cooperativa Padaria do Povo que esteve na base da constituição da Comissão Eleitoral de Mulheres do Distrito de Lisboa (mais tarde MDM) e esteve ligada à Comissão Eleitoral Democrática (CDE) para a eleição de deputados à Assembleia Nacional. Em 8 de Março de 1969, participou em Lisboa num colóquio-convívio sobre as exigências sociais e políticas das mulheres e a sua oposição à guerra colonial. Em 1970 interveio em debates sobre o Dia Internacional da Mulher em Lisboa, Setúbal e, com Maria Lamas, na Cova da Piedade. Em Março de 1970, participou num piquenique na Serra de Sintra, durante o qual se procedeu à distribuição de postais e documentos reivindicativos. Esse piquenique foi interrompido e reprimido pela GNR e pela PIDE/DGS. Entre 1970 e 1971 participou na campanha para repor a oficialização da educação pré-escolar em Portugal com publicação e divulgação dos “Direitos da Criança”. Em 20 de Novembro de 1969, no Centro Social de Moscavide falou num colóquio sobre a “Declaração Universal dos Direitos da Criança”. Entre 4 e 8 de Abril de 1973 participou na preparação do 3º Congresso da Oposição Democrática. Em 8 de Março de 1973, no colóquio sobre “A situação da Mulher em Portugal” abordou a questão relacionada com o “Acesso das Mulheres ao ensino”.
Seminários de Psicolinguística
Leccionou na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas entre 1975 e 1985. Até 1995, foi responsável pela realização de seminários sobre Psicolinguística.
Entre 1990 e 2006 lecionou na Universidade Aberta de Lisboa.
Jubilou-se em 1992 porque a Fundação Gulbenkian extinguiu os Departamentos de Investigação do Instituto Gulbenkian de Ciência.
Actualmente, a par do trabalho de investigação que continua a desenvolver, é professora convidada da Universidade Aberta de Lisboa, da Universidade de Paris VIII e da École Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris.
Foi três vezes bolseira do governo francês (1959-60, 1971-74 e 1975-80), tendo frequentado, entre outros, cursos de Língua e Literatura Francesa, Linguística, Psicolinguística e Semântica Cognitiva.
Instituições e Associações
Entre 1956 e 1969 proferiu conferências sobre a temática feminina. De 1971 a 1999 apresentou comunicações sobre a sua especialidade (Linguística e Psicolinguística) em congressos e colóquios em Portugal, França, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Luxemburgo, Bélgica, Bulgária e Grécia.
Tem sido convidada a proferir conferências em diversas instituições nacionais e estrangeiras.
É membro das seguintes Instituições e Associações: Sociedade de Língua Portuguesa; Associação de Professores de Português, tendo integrado o seu primeiro Conselho Directivo em 1978; Associação Portuguesa de Linguística (de que foi vice-presidente de 1986 a 1989); Associação Portuguesa para a Literacia, pertencendo ao seu Conselho Consultivo; International Society of Applied Psicholinguistics; Societé de Linguistique Romane; Association pour le recherche de E.H.E.S.S. de Paris; International Reading Association; Instituto de Educação da UNESCO, integrando o grupo de peritos que se ocupam da literacia. Faz parte do Conselho Consultivo da Fundação Internacional Racionalista, sendo directora do respectivo Boletim e é, ainda, vice-presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação de Intervenção Democrática.
Fez parte do Conselho Nacional de Educação (1997 – 2007).
Após o 25 de Abril de 1974
Após o 25 de Abril de 1974 foi membro do Conselho Nacional do MDP/CDE, e colaborou no sector de Educação.
Tendo sido uma das fundadoras do MDM, integrou a Direcção deste Movimento, onde tem desenvolvido intensa actividade, até ao presente.
Em representação do MDM participou no Congresso Mundial de Mulheres, em Berlim 1975 (Ano Internacional da Mulher); no Fórum das ONG da “4ª Conferência Mundial Sobre as Mulheres”, em Pequim (1995); no Parlamento Europeu (2015), na celebração do Dia Internacional da Mulher. Foi representante efectiva do MDM no Conselho Consultivo da ONG da “Comissão para a Igualdade e Direitos das Mulheres” (CIDM/CID), de 1991 a 2012.
Actualmente é Vice- Presidente da Associação Portuguesa de Amizade e Cooperação Iuri Gagarine; é membro do Conselho Nacional e da Direcção Nacional do MDM, que em 2001 lhe atribuiu a medalha de Distinção de Honra.
Mantém-se também em actividade, quer nas áreas da sua especialidade quer na intervenção cívica, nomeadamente, colaborando na revista Seara Nova.
Publicações
Tem publicados artigos e estudos nas seguintes publicações: “Jornal Magazine da Mulher”, “O Professor”, “Seara Nova”, “Vértice” e “Cognition” e, ainda, na Revista Internacional da Linguística Portuguesa, nas Actas dos Encontros Nacionais da Associação Portuguesa de Linguística e nas Actas dos Encontros Internacionais promovidos pela Associação Internacional de Psicolinguística.
No “Magazine” do Diário de Lisboa foi responsável por uma secção que denominou “Luzes da Cidade”, crónicas sobre acontecimentos da vida diária. Viu cortada integralmente pela censura a crónica “A passageira do eléctrico” (1959) por tratar da vida de miséria de uma mulher. Obras suas sobre a temática da Língua Portuguesa e Psicolinguística foram editadas pelo Instituto Nacional de Investigação Cientifica (1978), Livros Horizonte (1978 e 1979), Instituto Gulbenkian da Ciência (1981 e 1990), Editorial Caminho (1998) e Universidade Aberta (2000).
Dados biográficos:
- Colaboração de Dulce Rebelo
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