Passada a euforia do ano novo, especialmente comemorado por aqueles que vislumbram a derrota do fascismo em 2022, iniciamos a semana com o duplo efeito réveillon: por um lado, a ressaca do aumento de contaminações por Covid e, por outro, a percepção de que serão 10 longos meses até a chegada da primavera e o início da reversão do quadro político.
A passagem do ano celebrou a esperança. Longe do frenesi das pautas parlamentares e da agenda política, trouxe a falsa sensação de trégua, de que o pior já passou, mas a impunidade garantida ao genocida custará mais um ano de mortes e de destruição ao país.
O aumento exponencial da contaminação por Covid e as ameaças da variante ômicron auguram contenções e renúncias, ameaçando os planos de um novo normal na vida cotidiana. E tudo isso agravado pelo comportamento negacionista de um governo preservado pelo pacto jurídico-político do “deixa-disso”, ajustado na crise do último 7 de setembro.
Não se quer, com essas memórias, estimular o pessimismo ou o desânimo. Ao contrário. Em um país tão golpeado como o nosso, o sentimento de esperança celebrado no Ano Novo precisa vir acompanhado de uma estratégia e de um plano de ação.
Não nos é permitido o direito à distração, menos ainda à ingenuidade. É preciso observar, com realismo e cuidado, que as forças políticas neoliberais, aliadas à grande mídia, escolhem apoiar qualquer governo que garanta seus interesses imediatos e não há pudor nessa escolha.
Para o mercado financeiro e a mídia hegemônica associada ao capital internacional, as mortes por Covid e a destruição das condições de desenvolvimento de um país são efeitos colaterais de uma guerra contra a perdulária democracia. Lula e um projeto de Brasil-Nação são alvos nessa guerra e as eleições de 2022 são apenas a batalha final.
Portanto, neste momento em que as estatísticas de contaminação voltam a ser alarmantes e que estamos tão distantes da retomada democrática, é preciso pensar e planejar. Ajustes políticos arrematados nas casas de veraneio por todo o país têm como premissa, entre outras estratégias, o esquecimento dos sucessivos golpes e traições sofridos desde 2013, passando por impeachment farsesco, lawfare e lavajatismo aliado ao fascismo no poder.
O “deixa-disso” tem exigido, em nome de aliança para garantir governabilidade, o esquecimento como ponto de partida. No país dos pactos de silêncio, nada mais significativo.
por Carol Proner, Doutora em Direito, professora da UFRJ, diretora do Instituo Joaquín Herrera Flores – IJHF | Texto em português do Brasil
Fonte: Brasil247