Jorge Silva Carvalho, o ex-director das secretas que violou os registos de chamadas de telemóvel do jornalista Nuno Simas e foi acusado de crimes de violação do segredo de Estado, corrupção e abuso de poder, proferiu hoje no tribunal onde está a ser julgado declarações que não podem ser ignoradas pela gravidade de que se revestem quanto aos procedimentos usados pelos serviços secretos portugueses.
Silva Carvalho, citado pelo jornal Público, afirmou que “noventa por cento do modus operandi dos serviços de informações é ilegal”, acrescentando que o segredo de Estado serve para proteger as operações ilegais das secretas, que não hesitam em “vigiar, fotografar e filmar pessoas” que não são alvo de investigação criminal. Disse também que os serviços secretos têm “fontes de informação em todas as operadoras de telecomunicações desde sempre”.
Sobre a notícia de Nuno Simas que deu origem ao processo, Silva Carvalho confirmou que “esmiuçaram o máximo possível” os contactos feitos pelo jornalista nos dias que antecederam a saída dessa notícia, e também nos dias seguintes porque era preciso “extirpar o cancro” e “encontrar o traidor”.
A crer na notícia do Público, Silva Carvalho afirmou que sabe “como é que os serviços de informações podem usar os jornalistas e controlar órgãos de comunicação social”.
As declarações de Silva Carvalho causam também profunda inquietação. Porque não só as ilegalidades nunca foram denunciadas pelos jornalistas que acompanham as questões de segurança interna, como eles próprios são, pelos vistos, vítimas de violação da privacidade e instrumentalizados pelas secretas para controlo dos meios de comunicação social.
Ficou-se também a saber que cidadãos que não são alvo de investigação criminal são vigiados, fotografados e filmados.
Estas declarações, proferidas em tribunal por um ex-alto dirigente dos serviços de informações da República, não podem passar sem uma investigação profunda ao funcionamento das secretas portuguesas, apurando a sua veracidade e responsabilizando os dirigentes e funcionários que as praticam. Tudo isto é demasiado grave para ser ignorado.
[…] (artigo publicado no jornal TORNADO) […]