É historicamente bem conhecido o facto das grandes convulsões económico-sociais e políticas originarem formas de pensamento diferentes das tradicionais, não se estranhando pois que com o despoletar da Crise Global em 2007/2008 tenham surgido, com maior ou menor repercussão, nos meios de comunicação referências a novas correntes de pensamento ou a recuperação de outras que na sua época passaram quase desapercebidas.
E este fenómeno nem de longe se resume a abordagens a partir de outras áreas sociais, como vimos nos casos personalizados em Polanyi ou Felber, pois também no restrito campo da economia existe quem persista na procura de formas alternativas de pensamento. Exemplo disso mesmo é a proposta do gestor norte-americano Richard C. Cook, que partindo da leitura da situação de escassez de liquidez que a economia mundial vive tem vindo a produzir trabalhos no sentido de explicar a necessidade de uma nova política monetária não orientada para o favorecimento dos interesses do sector financeiro, mas sim para o do equilíbrio do tecido económico.
Lembra este autor que a óptica dominante tem imposto que se fale do “mercado” e não do governo como a via mais adequada para a tomada de decisões económicas, mas se a economia de mercado é tão boa, porque é que:
- os rendimentos do trabalho têm estagnado e aumentado o controlo da riqueza pelos mais ricos?
- a classe média tem declinado?
- a pobreza tem crescido?
- a indústria de base está a desaparecer?
- os preços dos bens estão inflacionados?
e fundamenta uma resposta onde o principal problema reside numa escassez crónica de meios monetários (liquidez) em consequência da actuação do sistema financeiro que tem vindo a criar uma situação que torna toda a gente dependente do crédito e aponta o crescimento exponencial da dívida como a principal razão para a concentração da riqueza.
Assim, entende que se o crédito fosse utilizado enquanto instrumento de desenvolvimento –gerador de mais bens e serviços e da consequente melhoria das remunerações salariais –e desnecessário enquanto meio para suprir necessidades de consumo, nem as famílias ou os Estados estariam na situação de sobreendividamento que hoje conhecemos.
No essencial, o conjunto de pensadores heterodoxos propõe que o comércio mundial deve ser eticamente regulado, porque no quadro da ideologia do comércio livre vigente este tornou-se num “fim em si mesmo”, a par com a necessidade de um sistema global de comércio que funcione para o “bem de todos” e a criação de um mecanismo que assegure que as balanças comerciais se mantêm em equilíbrio, pelo menos aproximadamente e por períodos de tempo mais longos; uma espécie de Bretton Woods II onde várias organizações internacionais de regulação – não apenas do comércio mundial, mas sobretudo do dinheiro (mundial) – poderiam ser um remédio para as crises capitalistas.
Através destas poderia seria criado um “novo triângulo” que à necessidade de preservar a autonomia e a democracia do Estado juntasse objectivos de desenvolvimento sustentável – como a cooperação global progressiva nos domínios dos direitos humanos, da protecção do ambiente e do clima, da coesão social e da diversidade cultural – e os dois níveis de política comercial; uma de nível nacional, através de políticas de substituição de importações, de criação de novas indústrias ou de tarifas educativas e outra de nível internacional, mediante a instituição de uma ‘união de compensação’ e de um ‘sistema ético de protecção aduaneira’.
A economia do bem comum propõe, em resumo, uma forma de economia de mercado onde, mediante medidas públicas, exista:
- planeamento cooperativo do mercado;
- serviços públicos de interesse geral totalmente controlados pelo interesse comum;
onde a procura concorrencial de lucro deixe de constituir o único objectivo e onde o lucro significa um meio para alcançar o bem comum a definir pela participação cooperativa dos cidadãos.
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.