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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Economistas com todos os nomes: Eméritos, Conselheiros, Séniores

Nuno Ivo Gonçalves
Nuno Ivo Gonçalves
Economista, Mestre em Administração e Políticas Públicas, Doutor em Sociologia Política. Exerceu actividade em Gestão Pública, Recuperação de Empresas, Auditoria e Fiscalização e foi docente no ISE e no ISG. Investiga em História Contemporânea.

O Bastonário da Ordem dos Economistas, António Mendonça, lançou em 3 de Novembro último um comunicado de congratulação com o sucesso, que, afirma, teve o recente Congresso Nacional de Economistas.

“Como é do vosso conhecimento, realizou-se nos passados dias 25 e 26 de outubro o nosso Congresso Nacional sob o tema “Portugal e os desafios do presente: o papel dos Economistas e Gestores”.

O Congresso foi um sucesso, sob todos os pontos de vista. De acordo com os nossos dados estiveram mais de 600 pessoas ao longo dos dois dias, entre as quais é importante destacar a participação de cerca de 100 estudantes das áreas das ciências económicas e empresariais, tendo atingido um pico de afluência simultânea de 550 pessoas, divididas entre o Auditório principal e as duas salas de apoio com circuito de vídeo em direto.

É de mencionar, a qualidade das comunicações dos oradores convidados e dos participantes nos diversos painéis …É de referir, também, a adesão às sessões paralelas onde foram apresentados 14 trabalhos por parte de membros da Ordem. 

E contabiliza também o impacto mediático, num momento aliás já aquecido, como era previsível, com a discussão do Orçamento de Estado para 2024, o que pode aliás ter diminuído o impacto específico do Congresso – agora referido como Congresso dos Economistas e Gestores – enquanto forum de discussão e dos pontos de vista defendidos nos trabalhos apresentados nas sessões ditas paralelas(i). De qualquer forma António Mendonça está de parabéns pelo sucesso do esforço de dinamização interna que iniciou com a sua candidatura a bastonário – que triunfou, recordo, por uma margem mínima Os Economistas e as eleições na sua Ordem – sucesso que deve muito ao seu incansável envolvimento pessoal.

Já não diria o mesmo em relação à gestão do processo de atribuição dos títulos profissionais de Economista Sénior e de Economista Conselheiro, previsto nos ainda vigentes Estatutos da Ordem mas nunca anteriormente regulamentado, para o qual a Direcção da Ordem em vez de abrir de forma permanente um processo de candidatura em que cada interessado requeresse a análise do seu currículo e eventualmente a possibilidade de fazer a sua apresentação e defesa, definiu um período de apresentação de candidaturas a analisar e decidir em timing apertado com vista a anúncio dos resultados no Congresso de Outubro e simultaneamente regulamentou a criação e atribuição do título de Economista Emérito.

Isto dos “Eméritos” corresponde a uma prática que se iniciou nas Universidades também por regulamentação autónoma e transbordou para outras instituições conexas, como foi o caso do Centro de Estudos Sociais que atribuiu o título de Director Emérito a Boaventura Sousa Santos.

Entre os economistas, que exercem funções muito diferenciadas, sempre tivemos consciência de que existiam “Economistas de referência” (ou “Grandes economistas” se quisermos ser verrinosos) que se distinguiam essencialmente pela sua notoriedade. Ao lançar o título “Economista Emérito” a Ordem dos Economistas iria, esperava-se, oficializar essas situações, mas poderia também, com critério, encontrar novos “valores”. Pelos nomes que foram sendo elevados a essa dignidade, terá talvez ficado a meio caminho uma coisa e outra.

Memórias de Economistas, 2006

Logo no princípio um acontecimento infeliz perturbou o desenvolvimento do processo: faleceu o Dr. João Salgueiro, indiscutivelmente um economista de referência para toda uma geração, e que estava para além de todas as distinções honoríficas, uma vez que não estava – e nunca tinha estado – inscrito na Ordem dos Economistas, sendo que os puristas que impuseram a criação da Ordem para quem não estivesse inscrito na Ordem se não pudesse dizer economista, tiveram de aceitar que a OE, muito bem, o homenageasse com a realização de uma conferência(ii).

Todos os ”Eméritos” identificados pela Ordem, excepto um, tinham sido membros do Governo. O Diário da República nobilita e até reforça o currículo. Um dos agora “Eméritos” era “Dr.” quando foi nomeado e saiu “Professor Doutor” quando foi exonerado(iii). A Ordem, e muito bem foi realizando pequenas sessões de homenagem aos “Eméritos”. Fui apenas à de João Ferreira de Amaral, que nunca foi membro de um Governo da República e que conheci aquando da minha passagem pelo Departamento Central de Planeamento. Não podia deixar de o cumprimentar com gosto.

Já próximo do Congresso faleceu outra indiscutível economista de referência, a Dra. Teodora Cardoso, que também nunca foi membro de um Governo da República. A OE anunciou que lhe atribuirá a título póstumo o título de Economista Emérita. Muito bem. Mas há outras pessoas a distinguir, antes que a morte física lhes garanta a imortalidade na nossa memória colectiva.

Quanto à nomeação de “economistas séniores” e de “economistas conselheiros”, cabe esclarecer que os “séniores” não são velhinhos mas sim colegas com 15 anos de actividade profissional, e que os “conselheiros”, que mal se distinguem dos primeiros, têm de ter uma actuação considerada “relevante” no domínio da Economia ou da Gestão de Empresas e 25 anos de actividade profissional.

O número de colegas que se candidataram a / foram aceites como, economistas séniores não terá atingido duzentos. As candidaturas a economista conselheiro também não terão sido também em número muito expressivo, acabando, em 5 de Setembro, com as candidaturas já enviadas, por ser recebida uma circular do bastonário do seguinte teor:

No âmbito das Comemorações dos 25 anos, a Ordem dos Economistas lançou em maio de 2023 as candidaturas a membros sénior e conselheiro, cuja nomeação será concretizada no nosso congresso em outubro.

Verificamos que é membro fundador da Ordem dos Economistas, e por esse facto gostaríamos de o convidar para membro conselheiro.

Caso aceite este convite agradecemos que nos envie uma breve nota curricular, até dia 18 do corrente mês para…

Ou seja, António Mendonça não nos pedia que nos candidatássemos, enviava-nos um convite directo para membro conselheiro e pedia-nos uma nota curricular.

Tratava-se portanto de uma passagem administrativa, disfarçada mais tarde – em 18 de Outubro – com uma mensagem do “Director Administrativo e Financeiro” que rezava assim:

Tenho o prazer de informar que a sua candidatura a membro Conselheiro foi aprovada em Assembleia Representativa de 17 de outubro de 2023, após análise curricular e validação pela Comissão Permanente do Conselho da Profissão, do parecer favorável do Conselho Geral, de acordo com o regulamento em vigor.

Os diplomas e cédulas profissionais serão entregues no nosso Congresso de 25 de outubro.

Duas horas e meia depois o “Director” emendava:

Informo que os membros que não podem estar presentes no Congresso, a cédula profissional e o diploma serão remetidos para a sua residência.(iv)

De qualquer forma aos quase 200 “séniores” juntaram pouco mais de 600 “conselheiros”, chegando-se aos 800 que António Mendonça haveria de proclamar no seu comunicado, e julgo que também no Congresso, onde posou para a fotografia com uma colega sénior e um colega conselheiro que exibiam a cédula e o diploma que tinham recebido.

Não quero tirar os méritos a ninguém mas devo referir que a redação da Nota Curricular que enviei à Ordem, me foi um tanto penosa:

  • a formação pós-graduada que incluí nas minhas habilitações literárias, ultrapassa em muito o âmbito da Economia, e um conjunto de trabalhos produzidos ao longo da minha vida profissional, que listei no curriculum reflecte igualmente outras formações;
  • comecei a minha vida profissional por um órgão central (Planeamento), passei depois a um organismo semicentral, semiperiférico, e depois a organismos marcadamente periféricos; foi um processo de aprendizagem que escolhi e durante o qual fui fazendo um pouco de GESTÃO nos meus sucessivos postos de comando, em unidades de dimensão e nível hierárquico diferenciados; mas como explicar isto numa ORDEM para a qual “Gestão” é Gestão de Empresas?

Bem fizeram os meus colegas que optaram por ignorar o convite do Bastonário, onde se incluem os três com que fui trocando impressões sobre o momento da Ordem dos Economistas e a cujo currículo ninguém pode negar relevância.

Em todo o caso saúdo especialmente dois nomes que vieram reforçar a lista dos dos Economistas Conselheiros:

  • o membro fundador da Ordem nº 85 – António Augusto da Ascensão Mendonça – actual bastonário;
  • o membro da Ordem nº 16285 – Maria Manuela Dias Ferreira Leite – uma relativa neófita na Ordem, que foi aclamada como Economista Emérita antes de vir a ser Economista Conselheira, e que a opinião pública identifica claramente como economista, sendo a sua notoriedade uma mais-valia para a Ordem.

Por mim, regresso ao meu refúgio na História Contemporânea, no qual continuarei a estudar a actividade de gestão de um dos primeiros “economistas e financeiros” licenciados pelo ISCEF cuja acção teve um grande impacto na nossa Administração Pública: Aureliano Felismino, Director-Geral da Contabilidade Pública entre 1947 e 1974. Espero ir publicando no Jornal Tornado algumas conclusões parcelares.

 

Notas

(i) Estive presente no Congresso dos Economistas de 2007, em Lisboa, onde a comunicação que entreguei foi aprovada para inclusão nos anais do Congresso mas não seleccionada para apresentação, e em que assisti a uma intervenção do Presidente da República Cavaco Silva, e no Congresso de 2009 no Funchal, de onde destaco a intervenção de Luís Campos e Cunha sobre Dívida Pública, e em que assisti a uma surpreendente intervenção como convidado do fundador da Assistência Médica Internacional Fernando Nobre, que 2 anos depois se candidataria a Presidente da República. Depois disso não voltei a participar em Congressos.

(ii) Que foi denominada “Por onde vai a economia portuguesa ?”, título do livro que numa altura em que João Salgueiro dava o seu melhor no Governo de Marcelo Caetano, foi lançado por Francisco Pereira de Moura, que pouco tempo depois seria qualificado pelo Deputado Casal Ribeiro como “elemento activíssimo da nossa oposição mais radical”. Não pude seguir a conferência, mas julgo que terá apontado para que ambos vinham da matriz do catolicismo social.

(iii) A Nota Curricular divulgada com a nomeação como Emérito não evidencia qualquer doutoramento…

(iv) Fui incluído na lista de Economistas – Conselheiros mas não fui ao Congresso, e também não recebi nada na minha residência.

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