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Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Edgar Correia

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(1945 – 2005)

Um homem bom, íntegro, com uma grande cultura política, Edgar Correia é recordado pela sua coragem, inteligência e generosidade. A sua vida foi um longo e incessante combate.Edgar Maciel Almeida Correia nasceu no Porto em 1945 e licenciou-se em engenharia electrónica, nessa cidade. Com 13 anos já acompanhava o pai, activamente, na candidatura de Humberto Delgado à Presidência da República, e daí em diante entregou-se aos combates pela Democracia.

Lutas, activismos e militante clandestino

Era muito jovem quando, em 1965, aderiu ao Partido Comunista. Estudante antifascista, participou nas lutas académicas e, durante 1967 e 1968, envolveu-se nas várias frentes de acção antifascista no Porto, nomeadamente em actividades culturais, tais como o Cine Clube do Porto. Foi um dos principais dirigentes das lutas associativas estudantis.

A partir de 1970, primeiro numa situação de semi-clandestinidade e depois como militante clandestino, integrou a direcção regional do Norte do PCP, que dirigia a organização e a acção deste partido nos dez distritos do Norte e do Centro do país[1]. Ao fim de algum tempo foi substituído no organismo por José Bernardino, sendo este um quadro clandestino chegado do exterior do país.

No final de 1972 Edgar Correia foi deslocado para o Sul, passando a integrar a direcção da organização regional do Sul do PCP. Foi nesta situação que soube, por um anúncio colocado no jornal O Século, que lhe tinha nascido um filho (o anúncio referia que algo se perdera num comboio saído de Lisboa com destino ao Porto; se a direcção do comboio tivesse sido a contrária, isso significaria que nascera uma filha). Na verdade, o filho nasceu na clandestinidade, mas dessa circunstância sentimental ou de todas as outras que tiveram a ver com a dureza da vida clandestina nunca se vangloriou ou veio, mais tarde, a manifestar azedume.

Depois do 25 de Abril, já em nome próprio

Após o 25 de Abril participou activamente na implantação das bases da Reforma Agrária, mantendo laços afectuosos com os trabalhadores agrícolas alentejanos. Em Julho de 1975, regularizada a sua situação militar, readquiriu o seu nome verdadeiro e regressou ao Norte onde permaneceu até 1990, tendo sido responsável pela direcção da organização regional do Porto.

Depois, transferido para Lisboa pela direcção do partido, Edgar Correia assumiu múltiplas funções na comissão política, no âmbito da educação, da ciência e da tecnologia, da saúde, da segurança social e de outros assuntos sociais. Foi membro do comité central de 1976 a 2000 e da comissão política entre 1983 e 2000, tendo-se demitido destes organismos, no final de Novembro de 2000, por divergências de natureza política com a direcção do PCP. Acabou por ser expulso em 2002, depois de um processo disciplinar interno que levou ao afastamento de outros dois dirigentes, Carlos Brito e Carlos Luís Figueira. Um processo que sempre contestou e considerou como “delito de opinião”.

Edgar Correia, histórico dirigente do PCP, com os dois filhos, Fernando e Edgar Medina (fotografia cortesia de Fernando Medina)

Edgar Correia manteve-se até à morte com o ideal comunista abraçado na juventude, ainda que amargurado por se ter visto expulso do seu partido. O seu combate não abrandou depois da expulsão[2].

Foi um dos fundadores do Movimento Renovação Comunista, e um dos principais dirigentes desse movimento/associação política. Quando faleceu ocupava o cargo de editor da versão portuguesa do “Le Monde Diplomatique”; chegou a ser colunista do jornal “Público”.

Era casado com Helena Medina, também uma histórica dirigente do PCP, e pai de Fernando Medina Maciel Correia (actual Presidente da CML) e de Edgar Medina Maciel Correia.

Morreu de cancro aos 60 anos de idade.

«Era um misto de razão e emoção com uma inesgotável capacidade de reflectir e de agir».
Paulo Sucena, pedagogo e Secretário-Geral da FENPROF

[1] Fazia parte, com Carlos Figueira e José Carlos de Almeida, do organismo mais importante do Partido Comunista a Norte, do qual era responsável Carlos Costa. Edgar Correia era o único dos três que se mantinha numa situação legal ( facto inédito na prática do Partido e que se devia à confiança depositada nele) e fora designado responsável pelo sector intelectual do Porto e boa parte do Norte do Pais.

[2] A sua vida foi um longo combate, em que plasmava a dureza da razão com a doçura do coração, orientadas ambas para a consecução do grande objectivo da sua vida – a construção de uma terra sem amos. (…) Era o que procurava fazer, desde que o PCP considerou insuportável a sua insistência na renovação, na democratização e na abertura, a partir da reflexão e do debate, desde os princípios à prática política concreta, desde os contornos do ideário aos projectos políticos imediatos.»


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