Três dias para reflectir sobre a persistência do racismo nas sociedades democráticas contemporâneas e identificar alternativas para o seu combate. Esta é a proposta de um curso de formação avançada, organizado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), que decorre até quinta-feira, dia 7 de Junho.
Com o tema “Construir uma educação anti-racista: conhecimento académico, práticas institucionais e lutas políticas” a formação destina-se a professores do ensino básico ao superior assim como a estudantes, investigadores, activistas, técnicos de intervenção social, e público em geral.
Marta Araújo é investigadora principal do CES no Núcleo de Estudos sobre Democracia, Cidadania e Direito (DECIDe) e adianta ao Jornal Tornado algumas das acções necessárias para que se construa uma Educação anti-racista.
“Se concebermos o racismo como um processo histórico e político, que se institucionalizou nas sociedades democráticas e distribui privilégios em função das hierarquias raciais que vai criando, uma educação anti-racista requer questionar a escola como uma instituição moderna com um papel-chave na perpetuação da injustiça racial”, responde a investigadora.
A investigadora Marta Araújo sublinha que importa questionar o conhecimento veiculado pela escola como legítimo. “Quem formula o conhecimento sancionado oficialmente e que outras perspectivas e abordagens têm ficado excluídas?”
Nesse sentido, Marta Araújo, diz que a construção de uma educação anti-racista requer uma mudança estrutural, porque implica pensar no sistema educativo como um todo. Questiona como a sua organização “continua a privilegiar certas populações, através de práticas institucionais que, ainda que não tenham tal objectivo, são geradoras de desigualdades étnico-raciais”. Dá como exemplos: o encaminhamento de alunos racializados para vias académicas e tipos de ensino menos prestigiosos, a constituição de turmas e escolas segregadas, ou a desvalorização das línguas não-Europeias.
Sublinha que importa ainda questionar o conhecimento veiculado pela escola como legítimo. “Quem formula o conhecimento sancionado oficialmente e que outras perspectivas e abordagens têm ficado excluídas?”
“Como se relaciona a escola com as iniciativas de educação informal propostas pela sociedade civil e movimentos de base, e que reivindicam outras lógicas de conhecimento que podem contribuir para uma compreensão aprofundada da história do racismo em Portugal (por exemplo, em torno da história e memória da escravatura, da colonização portuguesa, do trabalho forçado)? “, conclui Marta Araújo com trabalhos de investigação na área da (re)produção e dos desafios ao eurocentrismo e ao racismo.
Com este curso de formação, o CES pretende identificar as alternativas propostas para o combate ao racismo, nomeadamente as que têm emergido em diversos contextos europeus e americanos (sobretudo, Portugal, Brasil e Estados Unidos da América).
Segundo o programa, a formação incide sobre vários processos cruciais para a perpetuação das desigualdades étnico-raciais e para o seu desafio na contemporaneidade: a produção e a disseminação de conhecimento académico, processos de institucionalização do racismo na educação, o papel da educação na transformação social, e a mobilização política das populações racializadas.
5 de Junho6 de Junho7 de Junho
16h – 18h | Racismo, anti-racismo e educação: abordagens conceptuais e lutas políticas contemporâneas
Marta Araújo (CES)
18h – 20h | Assimilation, Resilience and Diversity: an Examination of the Urban Native American Community in San Francisco
Miye Tom (Center for Indian Education at Arizona State University)
16h – 18h | As ações afirmativas na Educação Básica e no Ensino Superior
Otto Agra Figueiredo (CES e Universidade do Estado da Bahia)
18h – 20h | Antirracismo no espaço educativo: percursos e percalços
Caroline Jango (CES e Universidade Estadual de Campinas)
16h – 18h |Antirracismo e a experiência do Teatro do Oprimido
Anabela Rodrigues (GTO-LX, Laboratório Ami-Afro)
18h – 20h | Mesa–redonda – Educação e anti–racismo: desafios políticos, pedagógicos e epistemológicos
Miye Tom (Center for Indian Education at Arizona State University)
Marcos Silva (CES)
Anabela Rodrigues (GTO-LX, Laboratório Ami-Afro)
Cayetano Fernández (CES)
Moderação: Marta Araújo (CES)
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