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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Educação é essencial para melhorar a vida de quem trabalha no campo

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Para pensar a educação do campo, neste momento de pós-pandemia, pelo qual a classe trabalhadora enfrenta as consequências da falta de políticas públicas voltadas para a superação da crise com valorização do trabalho, “a educação do campo se revela um fator primordial para colaborar com a produção agropecuária e com a melhoria de vida da classe trabalhadora”, diz Thaisa Daiane Silva, secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag).

Essa definição mostra a importância da escola do campo, abandonada pelo atual governo. De acordo com o Censo Escolar 2019, em 2018 existiam 5.195.387 alunos matriculados em escolas do campo no país. Esse número caiu para 5.050.154 em 2019. Antes da pandemia, portanto.

“Com a pandemia, a situação se agravou, principalmente com a intenção governamental de implantar o ensino a distância, sem levar em consideração a falta de acesso à internet e às novas tecnologias entre os mais vulneráveis”, argumenta Thaisa.

É que “atualmente é necessário promover o tensionamento sobre as discussões a respeito da educação do campo, no sentido que nos direcione a uma superação de concepções fundamentadas nas lógicas urbanocêntricas que estão presentes nos projetos de educação instituídos pelo Ministério da Educação”, afirma Charles Maycon de Almeida Mota, doutorando em Educação e Contemporaneidade pela Universidade Estadual da Bahia (Uneb).

Para ele, “isso se escancara com a estrutura apresentada nos livros didáticos como negação das áreas rurais por não trazerem discussões e propostas que contemplem a educação do campo. A partir disso, há uma negligenciação ao minimizar os marcos legais que instituem um movimento em defesa da educação do campo no Brasil”.

Como diz Thaisa, é com “uma educação de qualidade, que compreenda as especifidades das trabalhadoras e trabalhadores do campo, que contribua para a compreensão do Brasil e do mundo, que ajudará a manter a juventude trabalhadora no campo”.

Mas “há algum tempo vivenciamos o fechamento desenfreado de escolas em áreas rurais, promovendo o deslocamento de centenas de alunos de suas comunidades para escolas núcleos e escolas das cidades, desconsiderando o direito de crianças, jovens e adultos de estudarem em suas comunidades, sabendo que o nosso país é eminentemente constituído por uma grande parcela da população que habita as áreas rurais”, realça Charles.

O campo precisa de políticas específicas para evitar o esvaziamento e empoderar a produção de alimentos. “Investir nas escolas do campo é necessário para melhorar a produção agropecuária no país e valorizar a indústria agroecológica”, diz Jonas de Paula, secretário de Políticas Educacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Para ele, “investir em educação tanto no campo quanto na cidade significa investir no futuro”.

Contag

E para o país voltar a sonhar com um futuro de destaque no mundo e vida boa para a população brasileira, a secretária de Políticas Agrícolas da Contag e da CTB, Vânia Marques Pinto defende o retorno dos investimentos necessários para o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), entre diversas outras políticas públicas.

“O Pronera e várias outras políticas públicas foram abandonadas por este governo, que é contra a reforma agrária, em prejuízo às trabalhadoras e trabalhadores do campo”. Basta olhar o Censo Educacional, pelo qual existiam 137.599 estabelecimentos de ensino de educação básica no meio rural, caindo para 57.990 em 2018.

“Esse recuo é drástico para a vida no campo”, acentua Vânia. “Os candidatos à Presidência devem se ater à criação e recuperação de políticas públicas fundamentais para a educação do campo como instrumento de empoderamento”.

Charles argumenta que predomina desde o governo do presidente golpista Michel Temer, “a concepção de que as escolas da roça em sua configuração multisseriada se apresentam como um tumor na educação do país” e “os governantes vão produzindo discursos que deslegitimam a potência formativa das classes multisseriadas, promovendo proposições de oferecimento de educação de qualidade nas escolas da cidade pelas condições de estruturas física e pedagógica que prometem disponibilizar nessas escolas urbanas”.

Esse tipo de ação, “deixa de lado a valorização de uma educação inclusiva e integrada à comunidade escolar”, realça Vânia. Mas “se queremos que o país volte a crescer com combate às desigualdades, a educação do campo tem papel fundamental”.

De acordo com Jonas, a CTB defende “uma educação do campo que reforce o protagonismo dos povos do campo, inclusive, na formulação do projeto pedagógico”. Thaisa assinala a importância “de uma educação direcionada ao diálogo e aos saberes de todas as pessoas com respeito à diversidade”.


Texto em português do Brasil

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