Depois da vitória de Donald Trump, considerada por muitos a opção mais improvável, a França se olha no espelho estadunidense e começa a avaliar a possibilidade de que em suas eleições presidenciais também vença o improvável: a ultradireitista Frente Nacional (FN).
O problema é que a sequência de vitórias improváveis se alonga nos últimos tempos: triunfou o Brexit, ganhou o Não à paz na Colômbia, venceu Trump nos Estados Unidos, e agora muitos franceses temem ser o próximo elo desta corrente.
Ao se deparar nesse espelho, uma parte do país inquieta-se porque o avanço da FN sob o comando de Marine Le Pen é um fato reconhecido: por exemplo, durante as eleições ao Parlamento Europeu celebradas em 2014 foi o partido mais votado e seus candidatos reuniram quase 25 por cento do apoio.
Não obstante, até agora se consideravam escassas as possibilidades de uma vitória nas eleições presidenciais de 2017, mas o ocorrido nos Estado Unidos pôs muitos a pensarem e as reações não se fizeram esperar.
O candidato à presidência Alain Juppé, candidato favorito no grupo da direita, avaliou que a nação gala deve tirar lições dos resultados eleitorais norte-americanos para evitar que ganhe o discurso do extremismo e da demagogia, em referência clara à FN.
Por sua vez, o Partido Comunista Francês indicou em um comunicado que a vitória de Trump põe de relevo “a responsabilidade das forças de esquerda e de transformação social para impôr um entrave ao avanço dos populismos e da extrema direita”. Enquanto uns se preocupam, outros celebram: inclusive antes do anúncio oficial da vitória de Trump, Le Pen saiu de imediato a apoiá-lo com uma mensagem em sua conta da rede social Twitter.
“Felicidades ao novo presidente dos Estados Unidos Donald Trump e ao povo norte-americano livre”, escreveu.
Pouco depois ofereceu uma declaração pública na qual apareceu feliz e sorridente, e considerou que o triunfo do republicano é “uma boa notícia” para a França.
Sua eleição como presidente “não é o fim do mundo, é o início de um novo mundo”, sustentou Le Pen, quem elogiou muitas das posturas de Trump (compartilhadas pela FN) como o nacionalismo exacerbado, a rejeição a determinados projetos de cooperação internacional e a postura anti-imigrantes.
“A vitória de Trump tornou possível o que se apresentou como impossível e espero que o povo francês também dê a volta à mesa”, expressou a política de 48 anos que aspira a chegar ao Palácio do Elíseo.
Criado em 1972 por Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, o partido nunca esteve no governo e geralmente se caracterizou por suas posturas controversas de extrema direita.
No entanto, desde que Marine assumiu o comando em 2011, impulsionou-se uma renovação do grupo que lhe permitiu atualizar a imagem e ganhar novo apoios.
Dentro destas ações, um dos fatos mais eloquentes é a expulsão de Jean-Marie Le Pen das filas da FN em 2015, por causa de umas declarações polêmicas nas quais manifestou seu apoio ao Holocausto nazista.
Os analistas indicaram então que a decisão de Marine de expulsar seu próprio pai do partido que ele mesmo fundou, mostra a vontade irrevogável da eurodeputada de modificar a imagem (ainda que não necessariamente a essência) da FN.
Face às eleições presidenciais, vários politólogos e políticos mencionam o declive do Partido Socialista, castigado por uma maioria da população desagradada por determinadas decisões do governo de François Hollande.
Por essa razão, muitos preveem que as eleições de abril e maio de 2017 se definirão em segundo turno entre a direita e a ultradireita.
Em tal caso, impactará o efeito Trump nas eleições na França? Ainda é muito cedo para responder a essa pergunta, mas neste lado do Atlântico, alguns começam a temer o que antes consideravam impensável.
Fonte: Prensa Latina
Texto original em português do Brasil