Emprego é coisa que não há muito. Por isso nunca se deve deitar fora uma oportunidade. Alegadamente, porque desapareceu o anúncio e só resta uma imagem do mesmo, uma clínica dentária de Braga, a expandir-se para o Porto, anda à procura de uma assistente de arranca-dentes que seja “solteira e sem namorado” e “imagem cuidada”.
Ao mesmo tempo pede “dois anos de experiência” e uma foto.
Como os compreendo. Uma vez, no dentista, diz a lenda, apareceu o namorado da menina que estava a assistir o médico e, enquanto alavancavam a raiz com ferros ao paciente, o rapaz fez como o escocês da paragem: foi para lá praticar onanismo, recitando Camões, o que muito incomodou a menina assistente.
Quando obturaram um canino a Gomes Tomás, Comendador, nem se acredita! Estava o homem a sofrer quando entrou o noivo no consultório, com o padre e os convidados, e entre a broca e a massa, casou logo ali com a assistente de dentista. O padre foi muito simpático, que deu logo a extrema-unção ao Comendador, furado pela broca na jugular por distracção do dentista, que era o padrinho, quando este abraçou os noivos de forma descuidada.
Anda para aí um protesto linfático contra o anúncio. Está mal. Estes, ao menos, são honestos. Dizem que querem uma gaja boa disponível para umas cambalhotas. A maior parte das empresas também quer, mas faz essas perguntas nas famosas entrevistas, onde os e as entrevistadoras olham de cima a baixo as candidatas, a ver se levam salto alto, se se vislumbra o cinto de ligas (que é um atributo profissional) e se, entre a conversa, ela diz que se sente muito sozinha em casa, ao mesmo tempo que baixa um cadinho o decote.
William Shakespeare nunca conheceu os recrutadores de “Recursos Humanos”, ou teria apelado a que os matassem a todos, em vez de aos advogados. Há, dentre aqueles, uma gesta de gajos e gajas más, hediondos e anti-sociais, que olha para os entrevistados com uma superioridade e um nojo que lhes devia causar uma doença imediatamente. Não se generalize, há gente muito boa e com ética no que faz.
Mas o fenómeno da sub-contratação criou estes monstros. São pessoas contratadas por firmas que vão ficar com metade do ordenado do candidato e o tratam abaixo de cão quer do ponto de vista financeiro quer do ponto de vista humano. Estes recrutadores, principalmente de trabalho temporário, sabem que a pessoa A vai para a firma B. Eles intermedeiam e combinaram com a firma ficar com metade do ordenado de A enquanto este estiver a trabalhar para a firma B. Tudo porque a firma B acabou com o seu departamento de “Recursos Humanos” e contratou o intermediário, que se custeia a si mesmo com o dinheiro dos trabalhadores (a quem chamam colaboradores).
Por isso, a menina solteira e sem namorado até pode estar em melhor posição do que a maioria dos desempregados que, diariamente, se submetem de decote e perna à mostra, ou ar de barba de seis dias e peitorais no decote em V da camisa aberta. É que não se nota que haja intermediário.
De resto, o recrutador dos dentistas, um pervertido com panca por lolitas, que compre uma ovelha ou uma cabra. Mas que lhe pergunte primeiro se já tem cabrão ou se ele serve…