Enquanto estamos confinados sem abraços nem beijinhos, em consequência do estado de emergência, assistindo os arrestos e arrastos da população mundial, em nossas mentes toca o sininho ao ritmo do tic tac…com o coro do may… May e dançamos para o socorro.
Resolver os problemas do povo passou a ser prioridade absoluta…
Enquanto uns jantam soro de rehidratação oral, outros vão actualizando o estado da nação com um sorriso amargo que denúncia a subida dos preços, relembrando que sem IVA não vai…
Aí se a minha palavra fosse ordem… Exigiria o cumprimento das promessas feitas na hora da transição, timbrada a bic sobre a carta que não escrevi. E o regresso do filho pródigo estaria condicionado ao contributo na ausência… As palavras comovem mas o exemplo arrasta…
A dança das cadeiras seria adiada.
E o sonho seria apenas baseado num anjo na terra que nos livrasse da guilhotina ou da forca… Clicando no botão do restart para reiniciar este país.
A terra dos outros, já não é tão ansiada, pois a esperança tornou-se moribunda e a máquina do tempo foi afectada pelo medo.
O pai Natal és tu… Grita a zungueira que apregoa a sobrevivência…
– Olha a laranja minha senhora…
E na janela a madame ansiosa para voltar a andar compra da rua… Murmurando… – vamos fazer mais como?
Carabina quebrada numa guerra biológica, infestada de medos alimentado voyeurismo…
E nessa de viver por viver, a terapia da dança espantando gato preto, impondo lições da vida afastando-nos do fruto proibido, e o vinho o imuniza toda a pobreza…
Num momento onde lavamos as mãos só em pensamento, pois a água decidiu fugir das torneiras… Nem café, nem leite. Dó ré mi fá só lá… A vida é assim… E alguns aproveitam a fórmula de como ser super… Realizando os seus sonhos e ambições…
Só se ama uma vez, e quando o amor acaba, a minha mãe diz-me que o mais importante é saber ouvir…
Uns se deliciando com uma perna de presunto numa data igual a qualquer uma, chamando de mal educado a quem faz revolução…
O que pode piorar se a minha profissão sempre foi doméstica? apesar da concorrência nunca precisei de um plano B, entre suores e labores nunca me vi empatada e nem com as trincheiras barradas.
No meu caderno que hoje acabou , escrevo as confissões de uma mulher a deriva, que desesperadamente calma, procura ser a estrela que foi por toda a vida.
E no culto das 19, confessa seus medos e professa os seu pedidos, ansiando pelo paraíso… Se desapegando dos sabores e nostalgias…Deixa a vida me levar… Enfeitada com um véu de aço, caminha em direcção a meta que está entre a fronteira da felicidade e o ngunto (hálito) do cobrador…Aí se os meus olhos falassem…Na prática do desapego, traçada num aquário assassino, abraço o vizinho bonitão, coloco os sapatos anti semba e exponho o meu avesso . Me redimindo de toda está jornada, como uma kianda infiel.
A autora escreve em PT Angola
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