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João de Sousa

Sábado, Novembro 2, 2024

Erdogan tem Europa, EUA e Nato “na mão”?

João de Sousa
João de Sousa
Jornalista, Director do Jornal Tornado

Erdogan tem a Europa EUA e Nato na mão

Há, todavia, uma perplexidade de primeira grandeza que sobressai acima de todas as restantes, e são muitas: porque razão a maioria dos órgãos de Comunicação Social tem praticamente ignorado ou abordado este assunto com inexplicável ligeireza?

No Jornal Tornado reunimos alguns factos do domínio público, ou facilmente acessíveis, e muitas perguntas verdadeiramente inquietantes que, de bom grado aqui partilhamos consigo, caro Leitor.

Aparentemente Erdogan tem uma Agenda onde está vertida a sua “to do list” para, a nível interno, eliminar qualquer vestígio de Oposição e, a nível externo, conduzir uma política errática e equívoca, que exerça pressão considerável, para não dizer chantagear, os “aliados” actuais: NATO e UE.

A especial localização geográfica – a Turquia é, de facto, a porta entre a Europa e a Ásia, entre o Ocidente e o Médio Oriente, entre os mundos Cristão e Islãmico. Tem fronteiras terrestres com a Europa, com os estados de maioria muçulmana da ex União Soviética e com o Irão, o Iraque e a Síria; e está no centro de três mares interiores de enorme valor geoestratégico: Negro, Egeu e Mediterrãneo, sendo, por essa razão, um ponto privilegiado para o domínio político, económico e militar dos países limítrofes e das grandes potências: EUA e Rússia. Recorde-se a presença significativa da Armada Russa na Crimeia, no mar Negro. E as bases aéreas da NATO, no sul da Turquia.

Exercito turco invade a Síria

AR News

O exército turco invadiu recentemente o território Sírio, instalando-se em Jarablus, permitindo aos jiadistas a mudança de uniforme, fazendo-os  passar agora por “rebeldes moderados”. Os facínoras que se filmaram há pouco mais de um mês decapitando uma criança de 12 anos, foram já identificados usando agora o uniforme protegido por turcos e americanos ou, em suma, pela NATO.

Surpreendentemente, os EUA, que até ao momento sempre apoiaram os Curdos e as Forças Democráticas Sírias (uma coligação anti-terrorista de Curdos, Árabes, Turcomenos, Cristãos Assírios, Arménios, etc), exigem agora que as mesmas Forças Democráticas Sírias, que integram os curdos do YPG/YPJ, abandonem Manbiji e se retirem para leste do Eufrates, cedendo às pretensões de Erdogan. Tão surpreendente quanto vergonhoso este inopinado volte-face na política de alianças do Departamento de Estado norte-americano, traindo os amigos de ontem e submetendo-se às exigências do errático “chantagista” de hoje!

É preciso não esquecer que morreram três voluntários ingleses e americanos do YPG e cerca de 200 soldados curdos para a conquista de Manbiji aos salafistas, que teve o apoio aéreo norte-americano. E quer agora o Pentágono caucionar o contra-ataque dos jiadistas do chamado “Free Syrian Army” (os salafistas conhecidos por “Brigadas Sultão Murad”, “Batalhão Nour al-Din al-Zenki”, “Jabhat Fateh al-Sham”, etc…) para que estes reconquistem Manbiji? Qual é o sentido desta traição aos curdos?

 

Erdogan, o Ditador, quer reconstruir o Império Otomano?

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Face à ameça dos gangs de jiadistas apoiados pelo exército do tirano Erdogan e com o beneplácito dos EUA e da NATO, o povo do cantão de Efrin – que começou já a ser martirizado pela aviação turca – organiza-se para a defesa da sua liberdade! E o mesmo se faz já no cantão de Kobani. Em nome da decência e dos valores democráticos, o mundo não pode tirar os olhos de Rojava.

Curiosamente, a imprensa ocidental, que fez silêncio absoluto durante os longos meses de 2015 e 2016, em que o exército turco destruiu as cidades de maioria curda – Cizre, Diyarbakir, Nusaybin…  – assassinando activistas dos direitos humanos, advogados e professores, queimando vivos centenas de civis e forçando a deslocação de quase meio milhão de pessoas, começa agora a noticiar os ataque dos combatentes do PKK contra alvos militares turcos.

A ambição neo-otamana de Erdogan, com o apoio saudita e o financiamento de Yasin Al-Qadi (chamado “o banqueiro da Al-Qaeda) aos terroristas, nutre-se do ódio aos curdos e aos valores seculares e democráticos que estes representam. Esta parece, seguramente, a mais séria ameaça à estabilidade da região e, indirectamente, também, ao futuro da União Europeia.

ErdoganErdogan, o tirano sanguinário que encheu as prisões de académicos, professores e jornalistas… insiste na chantagem com a EU em torno do drama dos refugiados, consegue restabelecer ligações com Putin poucos meses depois de ter abatido um avião russo e, agora, consegue que Obama atraiçoe os curdos – os seus melhores e mais eficazes aliados na região – enquanto entra na Síria para salvar os terroristas do  califado em face do avanço dos curdos para oeste. Que interesses, que forças, que estratégias estão por detrás destes movimentações?

Nada disto parece fazer sentido. É provável que algo de terrível possa vir a acontecer…

Rojava

Depois de Nice e da matança de centenas de Hazaras em Cabul, desta vez foi em Qamishlo, a capital da República de Rojava (Curdistão sírio), entre aqueles que mais corajosa e persistentemente têm conseguido derrotar os terroristas. Um camião carregado de explosivos fez pelo menos 40 mortos e centena e meia de feridos, causando uma enorme destruição… É urgente esmagar o daesh e quem o suporta e financia; é preciso, por isso mesmo, acabar com a hipocrisia das relações internacionais e fazer um ultimatum à Turquia e à Arábia Saudita. Antes que seja tarde demais…

Operação militar russa

A operação militar russa na Síria começou em 30 de Setembro do ano passado. Aviões e helicópteros da Força Aeroespacial da Rússia têm atacado posições dos militantes do Daesh. O Ministério da Defesa da Rússia repetidamente sublinhou que todos os bombardeios são efectuados em conformidade com os dados da ”inteligência” e são combinados com as autoridades sírias. Desde o verão de 2014, uma coligação de mais de 65 nações ocidentais e árabes, sob a liderança dos EUA, têm realizado ataques aéreos na Síria e no Iraque contra o grupo terrorista Daesh, proscrito em muitos países, inclusive na Rússia.

Cronologia de um projecto de Califado

Cronologia de um projecto de Califado

24 Nov A Turquia anunciou que dois F-16 tinham abatido um SU-24 russo que violou o seu espaço aéreo junto à fronteira com a Síria

18 Mar União Europeia e Turquia chegam a acordo sobre refugiados

15 Jul Tentativa de “golpe de estado” na Turquia

9 Ago encontro de Erdogan com Putin (Erdogan pediu desculpa por causa do derrube do avião e ofereceu uma indemnização à família do militar morto)

25 Ago Operação militar turca na Síria. Militares turcos enviaram mais uma unidade de tanques para o norte da Síria onde está sendo realizada operação contra o grupo radical Daesh – informou a AFP. “Pelo menos 10 tanques atravessaram a fronteira síria na quinta-feira (25)”, em mensagem à agência. Segundo dados, os tanques serão adicionados ao comboio militar que já se encontra na Síria

28 Ago Turquia apresentou ao governo alemão um ultimato em relação à visita planeada de deputados alemães à base militar turca de Incirlik, informa o Der Spiegel. Desde Junho, Ancara mantém a proibição à delegação de parlamentares alemães de visitar a base aérea onde estão colocadas forças da Alemanha envolvidas em operações antiterroristas

 

Como interpretar os inusitados conselhos de Merkel?

Merkel e Erdogan

O novo conceito de protecção civil surge delineado num documento do Ministério do Interior com 69 páginas, divulgado esta segunda-feira pelo jornal alemão “Frankfurter Allgemeine”. As famílias devem ter água e comida suficiente para resistir cinco e dez dias.

Pela primeira vez desde a Guerra Fria, o Governo alemão vai actualizar a estratégia de defesa e protecção da população. E isso passa por aconselhar os cidadãos a armazenar comida e água em casa para usarem numa emergência nacional.

As novas directrizes ainda não foram divulgadas oficialmente, mas já começaram a ser exploradas pela imprensa alemã.

A actualização daquele plano “estava prevista há muito e não está relacionada com uma situação de perigo, nem com as actuais ameaças terroristas”, assegurou Ulrike Demmer, porta-voz da chanceler Angela Merkel, durante um encontro habitual com a imprensa.

O plano contém uma série de medidas para garantir o funcionamento do Estado em caso de crise, e o fornecimento de água, eletricidade, alimentos e cuidados médicos à população. “Um ataque em território alemão que exija (o recurso a) uma defesa convencional é pouco provável”, sublinha o documento do ministério do Interior.

Entre as recomendações feitas à população, contam-se a necessidade de reservas de água, de “dois litros por pessoa e por dia, por um período de cinco dias”. Os cidadãos devem abastecer-se de alimentos suficientes para dez dias.

Motivos para preocupação

Há sérios motivos para preocupação quando a falta de discernimento (que a direita chama inapropriadamente de “relativismo”) induzida pela metastização da guerrilha ontológica característica do actual estádio do capitalismo (capitalismo total, hipercapitalismo, capitalismo tardio, pós-capitalismo, etc…) leva a que cidadãos educados na Europa ocidental considerem que, e parafraseando a legenda da imagem viral que reproduzo abaixo, «There is no difference between those who force women to cover and those who force them to uncover».

Minoria religiosa Yezidi do norte do Iraque

Vian Dakhil, à direita na foto, pertence à minoria religiosa Yezidi do norte do Iraque e é deputada no parlamento nacional. Foi ela que, no Verão de 2014, gritou e soluçou até desfalecer em plena câmara, denunciando o genocídio do seu povo e implorando ao mundo por ajuda face ao avanço dos assassinos do califado.

Artigo completo Minoria religiosa Yezidi do norte do Iraque

Pois é… “Até quando?”

Pois é… “Até quando?”, interrogam-nos o texto e a imagem de 18 de Agosto. Não sabemos responder, infelizmente. Oxalá nunca tivesse acontecido em Aleppo nem em parte nenhuma!…

Entretanto, o jornalismo continua a prestar um serviço feito de imagens chocantes que se banalizam e rapidamente são esquecidas, em vez de informar com distanciamento crítico.

Artigo completo Pois é… “Até quando?”

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