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Terça-feira, Dezembro 24, 2024

O País mais triste do mundo

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Colaboração do Núcleo de Investigação Nelson Mandela – Estudos do Humanismo e de Reflexão para a Paz (integrado na área de Ciência das Religiões da U.L.H.T.)

Falemos agora da Eritreia, que alguém designou como o país mais triste do mundo.

Mesmo a sua história e cultura, muito ricas e ancestrais (há registo de ocupação do local com pelo menos um milhão de anos!) não conseguem dissipar essa tristeza, assente na intolerância e ausência de respeito pelos povos e numa história de presença colonial estrangeira – italiana, inglesa, sobretudo, no século XX – e de guerra fratricida (só a Guerra da Independência durou de 1960 a 1991, mais de 30 anos de horror cujas marcas nunca desapareceram) e de perseguições e violações de direitos humanos que duram até aos nossos dias.

A Eritreia vive sob ditadura, pelas mãos enérgicas do presidente (desde 1991) Isaias Afewerki, em guerra continua com a vizinha Etiópia e numa repressão brutal aos habitantes locais (a oposição ao regime sobre torturas; as pessoas são presas em contentores marítimos metálicos, em isolamento e em prisões miseráveis construídas no deserto. É um dos países mais repressivos do mundo, um estado de partido único, sem liberdades, governado por um ditador cruel).

País localizado no Corno da África, faz fronteira com o Sudão a oeste, a Etiópia a sul, e Djibuti a sudeste. O leste e nordeste do país são banhados pelo Mar Vermelho, tendo contacto direto com a Arábia Saudita e o Iémen.

Na Bíblia a Eritreia é referida com elevação, pelo menos em passagens que referem a importância local, por vezes com outros nomes: o país Etiópia, pois ao adoptar-se o cristianismo no Império de Axum, é adoptado também o nome de Etiópia no reino que hoje é a Eritreia. O Império ou Reino de Axum/Aksum foi um reino africano que se tornou conhecido pelos povos da região, incluindo o Mediterrâneo, por volta do século I. No século VIII a.C., começa a surgir uma civilização urbana no planalto da Eritreia, formada por uma parte do reino antigo de Sabá, que esteve na origem deste império e na cultura da Eritreia tal como ainda hoje a conhecemos. Os europeus desse tempo chamam Etiópia o nome dum país mítico e legendário na literatura grega), a todas as terras do sul de Egito sem distinguir entre reinos. É essa a Etiópia da Bíblia.   

A independência da Eritreia foi declarada em 1992. O País divide-se, pois há quase tantos cristãos como muçulmanos (estes em ligeira maioria) e a coabitação é dificílima. A Constituição, aprovada em 1997, consagra que “cada pessoa deve ter “a liberdade de pensamento, consciência e crença”. O texto nunca foi posto em prática e as autoridades governamentais limitaram por decreto as liberdade. Em 1995, o Governo decretou que apenas quatro comunidades religiosas seriam reconhecidas pelo Estado: a Igreja Ortodoxa da Eritreia Tewahedo, a Igreja Evangélica Luterana da Eritreia, a Igreja Católica e o Islamismo.

O Governo considera a religião em geral como uma ameaça e garantiu, nos últimos anos, o controlo da Igreja Ortodoxa e da Comunidade Muçulmana, pagando os salários das suas hierarquias, garantindo-lhes meios de transporte, enquanto controlava os seus recursos financeiros e todas as suas atividades. Mesmo neste quadro, a Igreja Católica e a Luterana continuaram a manter a sua autonomia. O Governo detém e persegue violentamente membros de grupos religiosos. Os últimos incidentes relatam a detenção de cerca de uma centena de Testemunhas de Jeová, sob a acusação de não quererem usar armas nem de quererem participar nos programas de milícias dos cidadãos.

 

Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

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