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Segunda-feira, Novembro 4, 2024

A política exterior brasileira prisioneira de uma visão extremista

O governo eleito anunciou como futuro Ministro das Relações Exteriores o diplomata Ernesto Araújo. Com 51 anos e 29 de Itamaraty, ele nunca ocupou chefia de missões diplomáticas e fez campanha aberta para o então candidato Bolsonaro em seu blog, chamando o PT – Partido dos Trabalhadores – de “partido terrorista”.

Em recente ensaio, ele se diz contra o “globalismo marxista” e a ameaça islâmica, em prol de um “pan-nacionalismo”. Defende que Trump está salvando a civilização ocidental cristã e que o Brasil agora vai encontrar sua alma ocidental, seu caminho nacionalista, sem ficar atado a blocos como Brics ou Mercosul, e mais os valores da família e o anseio por Deus.

Com tal mimetismo, a indicação causa apreensão na tradição da diplomacia brasileira de ser uma política de Estado de longo prazo e ameaça romper com a tradição da política externa brasileira de equilíbrio e mediação em fóruns multilaterais.

Ernesto Araújo à frente do Itamaraty sinaliza interesses ideológicos facciosos do novo governo e a volta ao alinhamento automático com os EUA, que resulta no retorno a uma inserção subordinada do país na ordem mundial. Expõe a falácia de campanha de que Bolsonaro iria “libertar as relações exteriores brasileiras da visão ideológica”. Muito ao contrário.

A chancelaria brasileira ameaça ser feita prisioneira de uma visão extremista. A indicação dá sequência a medidas já proclamadas pelo presidente eleito ou por sua equipe, como a transferência da Embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, levar à ruptura com o programa Mais Médicos que abre um vácuo no atendimento à saúde em milhares de municípios brasileiros, uma política não afirmativa nas relações com a China e o Mercosul.

O Brasil precisa de uma política externa baseada nos interesses nacionais estratégicos, à altura de suas dimensões no panorama internacional e saber utilizar para isso as margens de manobras que se constituem no âmbito do multilateralismo na ordem internacional. Com a indicação do chanceler, esses interesses restarão comprometidos e resultam em mais uma frente de lutas decisiva dos brasileiros em defesa da Nação.

 

Por Walter Sorrentino, Vice-presidente e Secretário Nacional de Política e Relações Internacionais do PCdoB  |  Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

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