Os ricos escondem o dinheiro. Têm vergonha e ainda bem, mas falta-lhes o escrúpulo. Os novos ricos, ao contrário, compram logo Ferraris. Falta-lhes vergonha.
Nos anos 80 havia um macaco mecânico nos cafés que batia palmas e dizia, em castelhano: “Hola, como te llamas? Quiero ser como tú. Dame dinero“.
O rico é o macaco.
Quer ser como nós e sabe que é má onda andar a espalhar a riqueza em numerário. Por isso arranja contas longe, tem casa murada, garagem, putos que vão para colégios católicos. Estes colégios, curiosamente, em vez de massacrarem os vendilhões e não aceitarem vendilhões, franqueiam as portas ao vil metal.
Está assim tudo montado para o macaquinho continuar a ser engraçado. Na sua jaula parece inofensivo, mas continua a pedir dinheiro e nós, putos, vamos lá enfiar a moeda. O macaco é mais rico, no fim do dia, do que qualquer dos clientes que lá passa. Montes de moedas à Tio Patinhas, recolhidas por um qualquer Donald e enfiadas em vácuo até às Caimão.
Os ricos estão a coberto de uma imprensa fascinada com os poderosos – como sempre foi, aliás, tirando ali a era do Aquário – e charmeia os pulhas com capas de glamour inconsistente. Os ricos passeiam-se com a petulância dos incorruptos. Olha o Brasil, olha Espanha, olha Portugal – não há gajo com dois milhões no banco que não tenha a sua quota de vergonha, mas passiva. A gravata, o carro, agora até vale ter uma Miss bum-bum.
Há um gosto reles nos ricos. Pensam em mau, afinam por uma moral de prelada: escondam os nascituros nas pedras e ninguém duvidará da tua castidade.
Qiero ser como tú, assegura o pataca. O costume feudal, a ideia dos poupadinhos de Salazar que enfiava nas grandes corporações todo o escudo e, finalmente, a era cavaquista que fez empresários ricos de todo o espertalhão-pato-bravo, consistentemente, transformam D. João V num macaco pobre. Qual Mafra e Minas Gerais. Panamá, Suiça, ilhas de todas as cores servem aos ricos para nos enganar. Hola, como te llamas, perguntava o mono da caixa onde se punha a moeda. Agora dizem boa noite e fazem a barba. Mas não deixaram de ser macacos, sem consciência social, sem noção da partilha, sem perceber o que é a mais-valia.
E não, não haverá dia em que isto mude. A microcefalia do Zika é muito menos perigosa que o profundo encolher de ombros do povo.