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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Especial debate presidencial EUA

Ana Prestes, São Paulo
Ana Prestes, São Paulo
Socióloga. Cientista política. Mestre e doutora em Ciência Política (UFMG). Atualmente está em fase de pesquisa de pós-doutorado no Instituto de Estudos Brasileiros (USP) e de doutorado no programa de pós-graduação em História na UnB. É analista internacional. Professora voluntária do Decanato de Extensão da UnB. Trabalha na Câmara dos Deputados e é pesquisadora da história da participação política das mulheres no Brasil.

A cientista política Ana Prestes destaca os principais argumentos de Donald Trump e Joe Biden no primeiro debate da disputa eleitoral e faz uma breve análise do desemprenho de cada um dos candidatos.

O debate desta terça-feira (29) entre os candidatos à presidência dos EUA foi um verdadeiro show de horrores. Em vários sentidos. O maior deles, a meu ver, foi a falta de clareza entre as supostas diferenças entre os dois candidatos. Trump jogou bem seu papel espalhafatoso e até de palhaço foi chamado pelo adversário. Deixou o mediador em apuros em vários momentos, como um garoto mimado difícil de conter. Biden quis passar a imagem de bom moço educado e cordato, mas seus forçados sorrisos aos atropelos de Trump não caíram muito bem.

 

O mais significativo na fala de Trump

  • “Venci para governar por quatro anos e não três”, ao ser perguntado sobre a indicação da juíza a substituir Ginsburg na Suprema Corte.
  • “Meu programa de saúde é cortar os preços dos medicamentos”, ao ser perguntado sobre qual o seu plano para a saúde pública.
  • A “culpa é da China”, “as máscaras não são efetivas”, “logo teremos uma vacina”, ao ser perguntado sobre a pandemia.
  • “A ‘praga chinesa’ impactou na nossa economia, mas nos recuperamos extremamente rápido”, “Biden quer fechar tudo e eu quero colocar a economia pra andar”, ao ser perguntado sobre os desafios econômicos.
  • Eu “defendo a lei e a ordem”, “não vi a direita causando violência, só vi a esquerda”, “vocês estão ensinando as pessoas a odiarem nosso país como um país racista”, “os ‘proud boys’ (supremacistas brancos) que fiquem na deles, mas de prontidão” ao ser perguntado sobre a violência promovida por grupos de supremacistas.
  • “China, Rússia, Índia vão mal na pauta ambiental, mas só falam mal de nós”, “estamos indo muito bem (…) vamos plantar um bilhão de árvores”, “os incêndios na Califórnia são culpa do governador e da falta de brigadistas”, ao ser perguntado sobre a pauta ambiental.
  • “A votação pelos correios gera fraude, são 80 milhões de cédulas”, “é um processo que vai demorar meses”, “não vou aceitar um resultado fraudado”, ao ser perguntado sobre a integridade do processo eleitoral.
  • Por fora do script do debate, ele ainda atacou pessoalmente um dos filhos de Biden, dizendo que ele é um “drogado e que tem negócios escusos com a Ucrânia e a Rússia”.

 

O mais significativo na fala de Biden

  • “O povo americano vai votar em senadores, em um presidente e assim vão dizer quem querem que nomeie o próximo magistrado”, “uma decisão agora pode levar a prejuízos para os direitos das mulheres e os assistidos pelo Obamacare”, ao ser perguntado sobre a vaga em aberto na Suprema Corte.
  • “No meu plano somente as pessoas mais pobres devem ter acesso a um auxílio público de saúde”, “eu derrotei Sanders nas primárias, meu plano não é o dele”, “você quer tirar 20 milhões de pessoas da assistência à saúde”, “ele (trump) não tem um plano para saúde”, ao ser perguntado sobre seu projeto para a saúde no país.
  • “Trump sabia do perigo e não fez nada”, “ele não tem um plano”, “ele não fez nada com as informações que tinha de Wuhan”, “vários cientistas dizem que a vacina ainda demora”, “é preciso um plano para abrir escolas”, “as máscaras fazem muita diferença e nenhuma pessoa séria diz o contrário”, ao ser perguntado sobre os desafios da pandemia.
  • “Os milionários e bilionários gostam dele (trump), o mercado gosta dele”, “será o primeiro presidente da história dos EUA a deixar menos pessoas empregadas do que quando assumiu”, “você não pode consertar a economia antes de salvar a vida das pessoas”, “todos pagamos imposto de renda e você?”, ao ser perguntado sobre questões econômicas.
  • “Vamos voltar ao acordo de Paris”, “vamos fazer uma infraestrutura verde”, “as florestas brasileiras estão sendo destruídas e vamos dar um apoio de 20 bilhões”, “se o Brasil não cuidar das florestas vai haver sanções econômicas”, “vamos construir casas ambientalmente eficientes”, “o Green New Deal não é meu plano”, ao ser perguntado sobre os desafios ambientais.
  • “Os que mais morreram pela Covid19 foram os afroamericanos”, “ele não fez nada pelos afroamericanos”, “há uma injustiça sistêmica nos EUA”, “policiais violentos são maçãs podres”, “a polícia precisa ter condições de lidar com seus limites e desafios”, ao ser perguntado se apoia as demandas do black lives matter de mudanças no sistema policial.
  • No geral, o que Biden mais disse foi “ele não tem um plano”, com pílulas de “ele é Trump”, “ele é um palhaço”, “cale a boca”, e reagiu ao ataque pessoal quando o presidente atacou seu filho.

Fico imaginando como estão os grupos de WhatsApp dos democratas hoje, por conta da linha bastante moderada e elitista de Biden com relação aos projetos para a saúde, ao desancar o projeto de Sanders, assim como o projeto de economia verde (Green New Deal), tão caro para Alexandria Ocasio e seu total silêncio com relação a justeza das lutas do Black Lives Matter e apoio explícito à polícia tal como ela é, tirando as “maçãs podres”. O comportamento de Trump já era esperado, jogou pra confusão mesmo e se sente perfeitamente à vontade em situações assim, ninguém espera dele um compromisso com a verdade.


por Ana Prestes, Cientista social. Mestre e doutora em Ciência Política pela UFMG   |    Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

 

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