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Domingo, Dezembro 22, 2024

Espero por Agosto

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

Talvez muito rapidamente tudo aconteça, é uma vontade inócua que recua de vez em quando sobre o despertador acordado na mesinha esquecida à cabeceira deste lamacento silêncio sem que vozes se sintam enquanto desejamos ouvir o tilintar dos musgos.

A morte vencida elabora uma partida para distâncias escuras como quadros velhos na esplanada que ainda ontem varriam mosquiteiros estendidos e copos vazios para noites perdidas e era o pronúncio ali, estendido num jornal de parede, ouviam-se anúncios de sequestros e nada se fez, era a morte que espreitava o sabor seco da partida.

Espero por Agosto apenas por vício embora não que goste de Agosto, espero-me em jaulas avulsas como quem percorre a sua própria inconsciência de se sentir nómada como que de forasteiros se tratasse mas nada, não existiam por ali aqueles sons carnívoros de maldades voluntárias enquanto jovens se dizimavam sugando tertúlias, era apenas a espera que os sustentava para que nenhum Agosto surgisse.

Por instantes um vapor invisível era dispersado contra os rostos que se cansavam de existir, pensavam devagar outros enquanto orquestras repeliam ao som de violinos cânticos que nunca se fizeram e poemas rebentados numa resma antiga num casebre escondido ao fundo dos sonhos, a imagem distorcia a esquina por onde se caminhava devagar pensando a vida e mares também, eram apenas as ondas flatulentas que se estendiam areais sem fim como teses ignóbeis para astronautas do olimpo num dia que surja em telas de metais azarentos como quede avarentos se tratasse, e morriam alguns, mesmo que apenas a sorte os descobrisse.

Como se nada fosse, era um repente ali, a gente encostados à palmeira que se abria ainda antes do amanhecer tentando descobrir a partida naquela saída única para a vontade que pudesse surgir e nada, serviu-nos isso apenas, esperar o impossível que jamais se cansa de nos atentar mesmo que seja devagar, rasgos eventos a norte deambulavam num ritmo de cantorias suculentas e à mesinha o despertador para sentenças e nada, nunca toca para o tal despertar caso seja preciso, um sono turbulento de escapes gaseificados de águas oferecidas aos destinados de um sempre nunca só, acompanham-nos as costas vergadas para contar costelas de rios em jazigos para cidades que nunca virão a existir.

Uma madrugada talvez, quem sabe, uma noite surgisse, uma vontade nos abortasse para fins sibilantes e levarem-nos a passear pelos canteiros velhos de um antigo castelo e contar neles apenas as pedras que restarem, tudo ficará ainda assim na memória, pois, a gente esquece depressa sempre que a cabeça sem sentenças se evapore contra muros ocultos e cores ali estacionadas como veículos a gaz, se houver, ou então, esperar que uma madrugada qualquer consiga então fazê-lo abrir-se e desabafar como se de histórias verdadeiras se tratasse, nunca se sabe, garanto, nem que velhas daquelas que na aldeia disparam palavrões como vertigens embriagadas nas tabernas avulsas da única vila que ainda existe nesta casa. Nem das vozes me recordo, nada mais é presente nesta couraça de miolos vazios ostentados pelos fios do frio, nem da chuva ainda ali o meu caminhar sentado neste prado de abelhas azuis que me sobrecarregam de soluços e tudo se repete para que nada termine, um vício permanente que alimento, sim, as mãos dobradas contra qualquer vazio que me preencha de sucumbidos socos na pele desta rua de ninguém, acredito mesmo na atmosfera ferida pelos calabouços arrefecidos à lareira desse Agosto que detesto, veraneio-me sozinho por pensar-te um rio que secou e a vida que fui nas tuas mãos é agora a espuma dos dias que não durmo. sobre as águas da vida o silêncio dói e o cinzeiro de fumos na rua deste cigarro que um dia o fora. Hoje já nada resta. 


Fragmento in Sobre as águas da vida o silêncio dói


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