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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

‘Espigas de Honra’ para Mendez-Leite, Patricia Ferreira e Mahammad Rasoulof

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

69ª SEMINCI – Semana Internacional de Cinema de Valladolid

Chega hoje ao fim a 69ª edição da SEMINCI. Um festival que, oficialmente desde o dia 17 (mas com uma sessão realizada no dia 16), tem vindo a decorrer na cidade espanhola de Valladolid.

Enquanto se espera os veredictos dos vários júris do certame que atribuirão os prémios a entregar na gala de encerramento que terá lugar esta noite no Teatro Calderón deixamos aqui a referência às ‘Espigas de Honra’ de 2024.

Um dos distinguidos foi Fernando Méndez-Leite, agora com 80 anos, ex-Director Geral de Cinema de Espanha (ICAA) e fundador da ‘Escuela de Cine de la Comunidad de Madrid’ (ECAM), com uma longa carreira de crítico, autor, director de programas culturais e realizador de filmes de ficção e documentários.

Outro dos galardões foi outorgado, a título póstumo, a Patrícia Ferreira, jornalista, guionista e realizadora de cinema e televisão, falecida aos 65 anos no final do ano passado. Nome incontornável do cinema espanhol, ‘Medalha de Ouro ao Mérito em Belas Artes’, realizou uma dezena e meia de filmes tendo participado várias vezes no Festival de Berlim e sido premiada, entre outros festivais, nos de Gijón, Málaga e Avanca. Teve também uma acção de grande importância como fundadora da Associação de Mulheres Cineastas de Espanha através da que lutou pela equidade entre mulheres e homens no cinema espanhol.

O terceiro homenageado foi o iraniano Mohammad Rasoulof que recebeu agora em Valladolid a ‘Espiga de Honra’ que a SEMINCI lhe outorgou em 2018! A vida para Rasoulof, como para outros grandes cineastas do Irão (Jafar Panahi, Bahman Ghobadi, Mohsen Makhmalbaf e o seu clã, …) não tem sido fácil. Com uma primeira longa (The Twilight) em 2002 e chegando aos grandes festivais em 2009 com ‘The White Meadows’, presente na secção oficial de San Sebastián, a sua carreira é um contínuo alternar de êxitos em várias partes do mundo e de perseguições e prisões decretadas pela ‘justiça’ do seu país. Prémio FIPRESCI em Cannes com “Manuscripts Don’t Burn” (em 2013), vencedor da secção ‘Un Certain Regard’, também de Cannes em 2017 com ‘A Man of Integrity’, em 2020 ganhou o ‘Urso de Ouro’ de Berlim com ‘O Mal não Existe’ mas não pôde receber o prémio porque não foi autorizado a sair do ´seu país. Detido em 2022, libertado em 2023 por motivos de saúde, Rasoulof está nesta altura exilado na Alemanha para onde fugiu clandestinamente e goza por isso de alguma liberdade… apesar de pesar sobre si uma pena de oito anos de prisão, flagelação e arresto de todos os bens materiais. O seu filme mais recente ‘A Semente da Figueira Sagrada’, um libelo contundente contra a ditadura teocrática iraniana, recebeu o Prémio Especial do Júri, o Prémio FIPRESCI e o Prémio do Júri Ecuménico no Festival de Cannes, foi Prémio do Público em San Sebastián, passou agora aqui em Valladolid na secção ‘Constelaciones’ e estará dentro de dias em Lisboa no LEFFEST. E tudo isto com a presença do realizador!

 

Alemanha, o país convidado

Mantendo o hábito de ter todos os anos uma filmografia convidada, nesta 69ª edição a escolha recaiu na Alemanha.

Do ‘Novo Cinema Alemão’, dos anos 60 até meados dos anos 80 do século passado, com nomes como Wim Wenders, Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog, Edgar Reitz ou Margareth von Trotta, até aos autores da Escola de Berlim, já do início deste século, como Christian Petzold, Valeska Grisebach ou Maren Ade, que têm marcado o cinema germânico dos últimos anos estiveram disponíveis no festival dezassete títulos que permitiram um olhar razoavelmente abrangente de mais de cinquenta anos de criação.

“Alice nas Cidades” de Wim Wenders, “Querelle” de Fassbinder, “Coração de Gelo” de Herzog, “Os Anos de Chumbo” de von Trotta ou “Ghosts” de Petzold foram alguns dos títulos apresentados.

 

Cine-concerto na SEMINCI

Desde 2008 que a SEMINCI tem vindo a incluir na sua programação uma sessão de cine-concerto. A iniciativa resulta da colaboração com a Orquestra Sinfónica de Castilla y León e tem lugar no magnífico Centro Cultural Miguel Delibes. ‘Metropolis’, O Couraçado Potemkin’, ‘Nosferatu’, ‘Tempos Modernos’, ‘The Kid Brother’ ou ‘O Homem Mosca’ foram alguns dos filmes exibidos em anos anteriores.

Na edição que está a decorrer foi projectado ‘Blackmail’ / Chantagem, aqui chamado ‘La Muchacha de Londres’, realizado por Alfred Hitchcock em 1929. O espectadores puderam seguir a história de Alice, uma jovem que comete um crime e do seu noivo, Frank, detective da Scotland Yard responsável pela investigação, ao som da música de Neil Brand tocada ao vivo pela orquestra dirigida pelo norte-americano Timothy Brock, um especialista no acompanhamento musical de filmes.

Esta foi uma sessão que juntou cinéfilos e melómanos num espectáculo memorável.

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