Como muitos alemães, a jornalista Mareike Graepel passou a madrugada de 8 para 9 de novembro em frente à TV, em sua residência na cidade de Haltern, no noroeste da Alemanha. De manhã, ela foi para o chuveiro com uma decisão na cabeça: é hora de se tornar politicamente ativa, é hora de entrar para o Partido Social-Democrata (SPD).
“Eu pensei: ‘Como é que eu explico isso o que acabamos de ver para os meus filhos no café da manhã?’ Terei que reconhecer que nos EUA foi eleito presidente um homem que não pode servir de modelo para os jovens, que não tem amor ao próximo”, explica.
Ela já vinha pensando havia tempos que era hora de se tornar ativa no SPD, e a eleição do multimilionário foi o empurrão que faltava. “Eu conheço muitas pessoas nos Estados Unidos, que ainda é o país dos sonhos para nós, alemães. E agora isso!”.
Graepel já é politicamente engajada, pois trabalha com refugiados, tanto numa associação em sua cidade quanto ajudando uma turma de crianças refugiadas na escola da filha dela. Ela também tentou argumentar nas redes sociais a favor dos refugiados, discutir sobre o assunto com pessoas que pensam de forma diferente. “Mas isso é trabalhoso e produz pouco resultado”, constata.
Partidos registram adesões
Muitas pessoas na Alemanha tiveram a mesma reação de Graepel diante da eleição de Donald Trump. Desde então, mais de 1.300 pessoas se filiaram ao SPD somente através do site do partido. “Somente entre as 4 e as 9 horas da quarta-feira, quando os resultados da eleição nos EUA começavam a ganhar seu contorno definitivo, foram mais de 70”, destaca o porta-voz do partido, Benjamin Seifert.
Num mês normal, o SPD registra cerca de mil novas adesões, contando tanto as online como as feitas pela maneira tradicional, ou seja, procurando uma sede do partido. Normalmente, as filiações online representam entre 40% e 50% do total.
Fazendo uma projeção, o número de novas filiações ao SPD em novembro pode ficar entre 2.500 e 3 mil. E isso num momento em que todos os partidos alemães estão perdendo mais membros do que ganham, sobretudo o SPD.
Em meados de 2015, um estudo realizado pelo cientista político Oskar Niedermayer apontou que os social-democratas estão perdendo membros, principalmente por razões de idade, em todos os estados alemães. O partido, que já teve mais de 1 milhão de filiados, contabiliza hoje cerca de 443 mil.
Verdes e socialistas
O Partido Verde também recebeu, no dia seguinte à eleição americana, 114 pedidos de filiação pela internet. Nos quatro dias posteriores foram mais 145. A cifra é visivelmente maior que em tempos mais calmos. Na sede do partido, em Berlim, acredita-se que há ainda outras razões além da eleição nos EUA, como, por exemplo, a convenção do partido, que ocorreu no fim de semana imediatamente após a vitória de Trump.
O porta-voz do partido Die Linke (A Esquerda), Martin Bialluch, afirmou que a legenda registrou 314 novas adesões apenas na semana após a vitória de Trump. “É uma quantidade quatro vezes e meia maior que em uma semana normal”, compara. Na quinta-feira após a eleição, o partido incentivou as novas filiações por meio das mídias sociais, pedindo aos cidadãos para se unirem à legenda “por causa de Trump, AfD e Marine Le Pen”. Só nesse dia, 111 pessoas aderiram ao pedido.
Fonte: Deutsche Welle
Texto original em português do Brasil