Gabriel Boric é eleito presidente do Chile, apesar de ficar em segundo no primeiro turno, em eleição polarizada com extrema-direita.
O candidato de esquerda Gabriel Boric foi eleito presidente do Chile neste domingo (19). Aos 35 anos, Boric é deputado e ex-líder estudantil e está filiado ao partido Convergência Social. O adversário nas urnas foi o advogado José Antonio Kast, de extrema-direita e filiado ao Partido Republicano. Kast já reconheceu a derrota e ligou para Boric para parabenizá-lo pela vitória, o que é considerado uma surpresa, já que a extrema-direita não costuma reconhecer derrotas, mas acusar fraude.
Até as 19h30 deste domingo, com 96,75% das urnas apuradas, Boric tinha 55,81% dos votos, contra 44,19% de Kast. A vitória ocorre apesar de, no primeiro turno, Boric ter obtido menos votos que Kast. Boric havia ficado em segundo lugar no primeiro turno, com 25,82% contra 27,91%. Como nenhum dos candidatos conseguiu uma liderança folgada no primeiro turno, de mais de 50%, foram disputar os eleitores mais moderados e indecisos.
Vencimos, seguimos y será hermoso 🌳
Ahora, a luchar por la dignidad del pueblo!#Elecciones2021CL #BoricPresidente pic.twitter.com/CAoKQYSJK2
— Partido Comunista de Chile (@PCdeChile) December 19, 2021
A eleição de Boric se soma a vitórias de outros candidatos de esquerda na América Latina, como as de Alberto Fernández, na Argentina, Luis Arce, na Bolívia, e Pedro Castillo, no Peru. Quando esteve em Buenos Aires, nos dias 10 e 11 de dezembro, o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu a militantes e sindicalistas argentinos que torcessem por uma vitória de Boric. Tudo isso, gera uma enorme oposição a Bolsonaro no continente.
Polarização
Gabriel Boric, de esquerda, e José Antonio Kast, de extrema-direita, representaram lados opostos do espectro político e disputaram cada voto do eleitorado. Enquanto um cresceu na esteira dos protestos antineoliberais de 2019, o outro garantiu apoio nos setores da “lei e ordem” contra os manifestantes.
Boric tem um viés progressista em temas sociais e morais e defendeu “um Estado de bem-estar” ao estilo europeu na área econômica. Kast apoia um modelo econômico neoliberal e tem uma visão ultraconservadora em temas sociais, com oposição ao aborto e ao casamento de pessoas do mesmo gênero.
O socialista também defende reformas constitucionais que garantam direitos sociais que hoje são negados aos mais pobres, como previdência, saúde e educação públicas. Kast vem com a mesma agenda pinochetista de sempre, defesa das grandes empresas com redução de impostos e regulações, privatizações, e total ausência de gastos em direitos sociais como aposentadores.
Ambos tiveram que lidar com temas densos como a elaboração da nova Constituição, pós ditadura, exigida pelos chilenos nas turbulentas manifestações. Como outras economias globais, o Chile enfrenta as dificuldades pós-pandemia, com inflação crescente. O PIB encolheu 6 pontos percentuais em 2020, devido ao impacto da Covid, que também causou a perda de 1 milhão de empregos, e o nível de pobreza, por sua vez, foi de 8,1% em 2019 para 12,2% em 2021 .
Entre outros problemas com os quais terá de lidar o novo presidente estão a continuidade da ótima política de combate à pandemia de coronavírus, atualmente com 85% da população totalmente imunizada, o encaminhamento do processo da Assembleia Constituinte até sua aprovação em outubro e a tentativa de estabelecer uma relação harmoniosa com o Congresso, no qual não há uma maioria clara.
No Chile, o voto é facultativo. Nas duas últimas grandes eleições, a participação não passou de 50% do total de eleitores.
O processo eleitoral decorreu com altas temperaturas na zona central, grande congestionamento de trânsito em redor das assembleias de voto e questionamentos de autarcas e opositores devido à suposta baixa frequência ou ausência de transportes públicos em algumas cidades. A Ministra dos Transportes e Telecomunicações, Gloria Hutt, pediu desculpas pelo funcionamento do sistema.
por Cezar Xavier | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado