Aquelas visam diminuir o número de carros, sobretudo nas zonas centrais, e baixar a velocidade média de circulação. Estas respondem à humanização da cidade e à preservação do ambiente.
A paisagem da nossa cidade é diferente e as medidas que são implementadas pecam por falta duma visão global e integrada.
São frequentes as zonas em que o peão tem que circular pela faixa de rodagem dado que o passeio virou estacionamento. Nos casos em que existem pilaretes a calçada portuguesa encarrega-se de escorraçar o peão idoso para o meio da rua. E nem vale a pena falar nos deficientes porque nem sequer existe a preocupação de cumprir a lei.
Para inverter esta situação as políticas têm de dar resposta a diversas questões, entre as quais:
- porque é que as ruas estão pejadas de carros?
- porque é que as pessoas são obrigadas a usar transporte individual?
- porque é que os transportes públicos não são alternativa?
O estacionamento na cidade foi, é e será caótico. Para que o deixe de ser há que pensar, desenhar e implementar soluções integradas. Actividades que a inteligentzia nacional desempenha mal.
As políticas têm de começar no momento da construção de edifícios. Numa sociedade altamente motorizada os prédios de apartamentos devem incluir o numero de estacionamentos necessários. Por exemplo, um apartamento T2 irá potencialmente alojar um casal e um filho o que implica, previsivelmente, a existência de três viaturas. Conceder licenças de construção que não cumpram estes mínimos é colaborar na criação de problemas futuros.
A par da obrigatoriedade de todas as empresas disporem de estacionamento, haverá que aplicar rácios de lugares de estacionamento por número de trabalhadores. Alternativamente, deverão fornecer transporte entre estacionamentos gratuitos na periferia e o local de trabalho.
Nas obras de reclassificação, repavimentação, etc, que estão em curso, e só pecam por tardias, assiste-se, no domínio do estacionamento, a uma perfeita ausência de políticas. Não há levantamento prévio das necessidades e das obras resulta uma diminuição dos lugares disponíveis. Às vezes na ordem dos 30% ou mais. Mesmo em zonas residenciais.
Pensar que é uma via para diminuir o número de viaturas na cidade é errado. Basta ver o que se passa nas zonas já intervencionadas para vermos os carros estacionados nas faixas de rodagem. A própria polícia tem dificuldades em autuar em zonas residenciais, porque percebe que não existem alternativas. Os apartamentos foram construídos sem estacionamento e no espaço público deixou de existir em numero adequado.
A circulação, em vias de trânsito intenso, é afectada por esta situação e porque, quer a polícia, quer a EMEL, se recusam a multar os carros estacionados em segunda e terceira fila.
Exemplos?
Avenida João Crisóstomo, entre a Marquês de Tomar e a Marquês Sá da Bandeira. Diariamente.
Avenida João XXI, entre a Rua Augusto Gil e a Oliveira Martins. Diariamente.
Só para citar dois troços de grande densidade de trânsito.
Outro troço, menos movimentado, é a situação de verdadeiro escândalo da Rua Tomás da Anunciação, em Campo de Ourique, entre a Coelho da Rocha e a Saraiva de Carvalho. E não vale a pena chamar a polícia porque nem sequer se dão ao incómodo de lá ir ou, quando na proximidade, de andarem uns meros 100 metros.
A EMEL tão pronta a bloquear carros bem estacionados mas que ultrapassaram a hora (a lei já o permite e dá receita com pouco trabalho) também lá não vai. Quando questionados encolhem os ombros.
As políticas acima citadas, a prazo, resolveriam e evitariam muitos problemas.
Os transportes públicos actuais não são alternativa por razões que nada têm a ver com o propalado comodismo português.
Um bom exemplo está no comboio da margem sul cuja utilização ficou aquém das previsões. Como evidenciou o presidente do ACP fica mais barato vir de carro do que de comboio. Depois vem a lengalenga do costume: há prejuízo, há que aumentar os preços, construiu-se um elefante branco etc.
Um contrassenso!
Estacionamentos grandes, seguros, bem iluminados e gratuitos junto das estações de comboio e de metro são condições sine qua non. Passes a preço acessível e horários compatíveis são essenciais. Note-se que os critérios economicistas, filhos dum neoliberalismo irracional, estão na base de autênticos tiros no pé.
Exemplo?
O Metro passou a andar mais devagar, com horários mais espaçados e a fechar mais cedo.
Os pais que têm de deixar as crianças na creche ou na escola têm de sair de casa mais cedo (se a escola ou creche estiver aberta) para chegarem ao emprego a horas. Têm de sair mais cedo do emprego para ir buscar as crianças porque o metro anda mais devagar ou pagar mais na escola para a criança lá poder estar mais tempo.
O trabalhador que precisa prolongar o horário corre o risco de já não ter metro para regressar a casa. Os que trabalham por turnos … esqueceram-se deles.
Com todo este stress, menos horas de sono, etc, a produtividade diminui. Então alguém se lembra que os trabalhadores portugueses são preguiçosos, trabalham pouco (só em Portugal porque lá fora nada disto acontece) e … toca a acabar com feriados. O que nada resolveu.
Alguém pensou ou pensa nisto?
Pensar os transportes públicos sem equacionar estas e outras questões corre o risco de aumentar a dependência do transporte individual.
Uma outra vertente que deve ser equacionada tem a ver com o ambiente. O Governo anda em discussões com os taxistas e, penso eu, com a UBER para alterar a legislação. Mais vale tarde do que nunca. Já equacionou só licenciar novos táxis que sejam eléctricos ou híbridos? Já pensou em só autorizar novos tuc tucs eléctricos (o que teria sido fácil se tivesse antecipado o problema)?
Políticas ao sabor dos momentos eleitorais, com a preocupação de desfazer o que os antecessores fizeram ou de as pautar por rótulos ideológicos genéricos, dá e dará sempre mau resultado. E continuará a ser uma razão maior do nosso atraso.
Este tem sido o comportamento dos governantes de todos os partidos.
Sem excepção.