Em todos os cantos só se falava desta assustadora doença, que parecia ser importada. E que nunca chegaria aqui, pois chegou-se a especular que era doença dos pulas e que os bumbos não “apanhavam”.
Rapidamente a notícia se espalhou, algumas distorções em torno das informações passadas foram surgindo na velocidade de uma bala, uns diziam que era por causa da sopa de morcego e outros que foi criada num laboratório, com fins políticos, a verdade mesmo é que havia pessoas a morrer por toda parte do mundo e que já havia dois casos em Angola, e que era urgente tomamos uma posição, na prevenção da mesma.
Em todos os cantos só se falava desta assustadora doença, que parecia ser importada. E que nunca chegaria aqui, pois chegou-se a especular que era doença dos pulas e que os bumbos não “apanhavam”.
Falava-se nas imprudências dos nossos controles alfandegários e na teimosia dos nossos compatriotas em acatar as medidas de segurança, sobretudo a distância e o facto de estarem privados a um bom pincho da esquina, recheado de bastante poeira e regado com uma cerveja bem fresquinha… A coçar a garganta.
– Na casa da mana Delfina, então tem bilo… Marido dele que nunca mais saiu fora está a lhe mandar lavar as mãos com água e lixívia toda hora, tipo foi namorar… Lhe tungunaram como?
– E isso te diz respeito? Eu aqui estou a pensar se amanhã vou dar o quê nas crianças… Mana se até as igrejas fecharam… E orar…
As ervas medicinais, entre mululu, eucalipto, moringa, cura tudo, alho e limão, desapareceram das bancadas das mamas quitandeiras que louvava à Deus pela procura (Não pelo motivo da procura)
Chá de tudo… se a febre-amarela rochou …
Alguém ainda perguntou como está a ser feita a motivação, e se ainda existiam os agentes sanitários… Há pessoas que só respiram… não tem rádio, nem facebook, nem televisão… Os kandandus converteram-se em um toque de cotovelos… Álcool gel um privilégio e as máscaras sujas travavam os quibuzos de gente mal informada que as usavam mais por vaidade do que por prevenção…
– Licença aa.
– Quem é?
– Cheee é confiança não é? Vocês não conhecem a minha voz? Abram a porta pá…
– Não tia não estamos a receber visitas…
– Isso é meu azar… Estão a pensar essa casa o vosso pai é quem construiu? Essa casa é da minha irmã, ouviram seus mal criados… Estão a pensar que vim pedir comida?
– Tia estamos de quarentena …
– Quarentena… Quarentena… Se não abrirem nunca mais piso o pé aqui…
– Tia desculpa… Mas temos de cumprir senão vamos todos morrer. Nos liga estão a dar saldo.
A autora escreve em PT Angola
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