Sem dúvida que a questão do estilo e dos estilos é uma que se prende com a marca dos artistas, distinguindo-os dos outros e uns dos outros.
O estilo é a assinatura, é a forma distinta e distintiva de cada um dar forma e expressão à realidade tal como a sente, a vê, a interpreta, sabendo-se que se trata de representação do real e não do real-em-si.
Deixo, por curiosidade, um pequeno poema de José Carlos Barros (ver revista Criatura 2008, no meu blog literatura e arte) em que se discute o que é o estilo:
Pássaro
O estilo é o que une o pássaro
e a sua abstracção. O estilo
é o que permite à ideia de pássaro
ganhar súbita leveza e aventurar-se
num vôo real sobre os telhados
e as árvores. O estilo
é o que transfigura as palavras
em objectos sensíveis
ao tacto. O estilo
é uma cicatriz, uma incisão
nos pulsos protegidos pela tradição
e pelos muros altos das casas.
Aqui temos, em forma poética condensada, duas afirmações implícitas:
O estilo é o que une (pela expressão formal) uma realidade (neste caso de pássaro) e a sua abstracção ( a ideia que temos dele).
Pode-se então discutir o que é, o que são, as ideias que se formam no acto de criação do artista: abstracções, representações formais.
E ainda, o estilo marca a ruptura com a tradição (a tal ferida nos pulsos, os muros altos das casas) com o fechamento que a tradição implica.
Esta função de ruptura será particularmente apreciada por todos os “Ismos” do século XX: do Expressionismo ao Surrealismo, Futurismo, Modernismo em geral.
Resumindo, em dois artistas que mereçam tal nome não encontraremos nunca dois pássaros iguais…