… se pensam que deserto por medo, “tirem o cavalinho da chuva”… Escrevo até que me doa o dedo!
Por volta de 1980 entrei para os quadros da NORMA que era então uma das poucas empresas de consultoria com reconhecida competência e que detinha o maior centro de processamento de dados da Península Ibérica. Visitei o dito centro, lá na Rua Artilharia Um, em Campolide, e o então erradamente designado computador tinha uma dimensão, julgava eu, maluca.
O atravancamento ocupava o espaço de toda a cave, o isolamento era à prova do trovão e o sistema de ventilação/refrigeração era de elevado caudal e potência o que não impedia de a temperatura da sala por vezes entrar no alerta vermelho e a máquina ter de interromper o processamento, a fim de recuperar a condição.
Escrevi processamento. Erro. Aquela coisa apenas executava meras ordenações e as possibilidades de cálculo ou outras, hoje com potenciais ilimitados, ou eram impossíveis ou muito lentas.
Depois de um inebriado crescimento, a par, das comunicações de voz e da evolução da net, eis-nos chegados a um tempo que mete medo.
Os servidores da Google e do Facebook são instalações comparáveis a grandes fábricas. Mas não é essa dimensão que mete medo. O que mete medo são as possibilidades de tais cérebros. Perceba isto.
No Facebook, por exemplo, já vai aparecendo um cruzar de dados compilados dos seus conteúdos a sugerir que você é isto ou aquilo e ao lado, se você consultou o “Trivago” por quer ir a qualquer lado, lá aparece o lado onde você terá consultado no “Trivago”.
Agora suponha que alguém, que você não conhece e que manobra aquele cérebro de trás para a frente e de frente para trás, estabelece o seguinte algoritmo, na linguagem adequada, passo-a-passo:
- Selecionar gajos facebookianos que já citaram Marx
- Excluir os que nunca citaram poetas
- Dos que restaram, segregue os que já citaram Saramago
- Faça a lista e ponha de lado, em local bem guardado e codificado
Com este exemplo, estou na lista. Se depois disto tudo me sinto seguro? Claro que não, mas se pensam que deserto por medo, “tirem o cavalinho da chuva”… Escrevo até que me doa o dedo!
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