“- Señor don Blas, de qué libro há sacado usté ese texto?
– Del teatro de la vida humana que es donde leo. “Ramón de la Cruz
Pepe Mão de Fada recolheu piedosamente aos seus aposentos naquela noite em que as discussões se prolongaram horas a fio e sem qualquer nexo lógico com o assunto que nos liga ao estranho cadáver do inventor descoberto nas traseiras da Igreja matriz.
– Um cadáver é um cadáver, não se desloca sozinho, sentenciou o construtor civil. Que fazer com ele?
– O inventor andava nos últimos tempos, muito, muito esquisito, dissera o último dos passageiros da camioneta da noite.
Num dia inexplicável a sua figura irrompera na pacatez da pequena aldeia. Instalara-se numa quinta senhorial abandonada e poucas pessoas gozavam do privilégio dos seus cumprimentos.
– Homem de poucas palavras, opinava o farmacêutico.
De poucas palavras é feita a vida de um inventor. De contrário como inventar o indizível? Consta que fugiu da cidade longínqua num dia de enorme cansaço e desencanto.
Partiu antes do amanhecer ainda o sol estava escondido do outro lado do mundo. Profetizara a morte da cidade, de todas as cidades do mundo. As caras das pessoas que corriam desalmadamente e sem destino assustavam-no. Antes a morte que tal sorte, escrevera o inventor num letreiro plantado no cimo de um grande carvalho às portas da sua quinta senhorial.