“Amigos, adeus:
Tal como os gansos selvagens
Perdidos nas nuvens.”
Bashô
Naquela noite Pepe Mão de Fada não conseguia pregar olho. Na mais escondida parede do hangar escavado na montanha o Inventor escreveu uma outra frase intrigante: o fisojacto é a chave do terceiro milénio. Estas palavras ecoam na sua cabeça e incapaz de dormir Pepe Mão de Fada repete-as à saciedade: o fisojacto é a chave do terceiro milénio. Uma vez mais tenta decifrar um enigma. Mas quem poderá decifrar este grande enigma?
As velharias acumuladas merecem agora ainda mais atenção. Fios, motores, ferro, cobre, alumínio, restos de petróleo, óleo queimado, restos de mechas, um pouco de parafina, tintas várias, com que tintas se pinta a vida de um Inventor?
Pepe Mão de Fada está deitado à espera do sono. Gostaria de dormir, claro. Mas como? É impossível. Está preparado para uma longa vigília. Enumera os pequenos sinais. Rememora os factos tal como eles são e não como ele desejaria que fossem. Detesta velharias e coisas assim. Detesta este tugúrio do Inventor. Detesta o cheiro pestilento dos óleos queimados. Detesta a humidade. Começa a maldizer a sua sorte por causa deste cadáver encontrado nas traseiras da Igreja matriz daquele pacato burgo desde sempre habitado por pessoas normais e tementes a Deus. Apenas um ou outro caso de luxúria que não vem ao caso nem é para aqui chamado e não se fala mais nisso. Havia o caso daquela putéfiazita que se atravessava no caminho da montanha e que toda a gente conhecia. Pepe Mão de Fada também a encontrou despida de preconceitos e naquela noite de vigília tudo se tornava evidente e descomunal. Até a figura de um Inventor ganha contornos de mistério e santidade.
(Será um santo enviado por Deus para remissão dos pecados do mundo? Quem poderá ter alguma certeza? Quem vai atirar a primeira pedra?).