Amanhã é dia de estreia mundial no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra. “Público x Lorca” é uma co-produção internacional dirigida espanhol Matilde Javier Ciria, e reúne artistas de Espanha, Costa Rica, Portugal e França.“Público x Lorca” é uma criação colectiva a partir da peça “O Público”, do dramaturgo espanhol Federico García Lorca.
El Público, no pretendo estrenarla en Buenos Aires ni en ninguna parte, pues creo que no hay compañía que se anime a llevarla a escena ni público que la tolere sin indignarse. Pues porque es el espejo del público. Es ir haciendo desfilar en escena los dramas propios que cada uno de los espectadores está pensando, mientras está mirando, muchas veces sin fijarse, la representación. Y como el drama de cada uno a veces es muy punzante y generalmente nada honroso, pues los espectadores en seguida se levantarían indignados e impedirían que continuara la representación. Sí; mi pieza no es obra para representarse; es, como yo la he definido, ¡un poema para silbarlo!”
Para o director artístico do projecto “Público x Lorca”, Matilde Javier Ciria, “O Público”, de Federico Garcia Lorca, “é poesia pura traduzida em texto dramático”. Matilde Javier Ciria, “artista multidisciplinar” nascido em Murcia, Espanha, em 1978, com trabalho de pesquisa desenvolvido em torno do teatro físico e da dança butoh, assume a direcção de um grupo de artistas costa-riquenhos, espanhóis, franceses e portugueses.
Ainda sobre a obra de Lorca, Matilde refere que esta é “a obra perfeita” para trabalhar em conjunto “as diferentes linguagens do teatro físico, da dança e do teatro de texto”. Salientando as “infinitas camadas” que é possível encontrar na peça que o próprio Lorca considerou “irrepresentável” em 1933, logo depois de a ter escrito, Matilde destacou as interrogações que ela suscita, entre as quais a questão da liberdade: “o que fazes tu com a tua liberdade – tanto como pessoa como enquanto artista no palco?”.
O espectáculo
Hemos encontrado en la obra un tren en el que el elenco-persona inicia un viaje en el que transitar los recovecos de la personalidad a través de los últimos ojos de Lorca. Un viaje con un único destino inevitable. La verdad que no nos atrevemos a decir.”
É uma proposta focada na pesquisa e interconexão de linguagens cénicas que potenciem a jornada emocional do mundo lorquiano para a reescrever nos corpos dos intérpretes; de modo a que o público, longe de assistir a uma representação passiva, seja desafiado a permitir-se permear por uma verdadeira experiência teatral.
A nossa proposta de espectáculo baseia-se nas poderosas imagens propostas na paisagem poética d’O Público (1936), que nasceu em relação directa a Poeta em Nova York, escrito em 1929-30 e publicado pela primeira vez em 1940. Desmembrámos o trabalho de Lorca – até encontrar o seu cérebro e o seu coração, o seu fígado e o seu pulmão – para entrar no teatro do consciente e do inconsciente, do pensamento, da imaginação, do corpo, da emoção e da simbologia. Despedaçámola – até encontrar o núcleo que nos estimula, redescobri-lo e extrair sua essência; e finalmente enfrentar os espectadores consigo mesmos e com o seu compromisso como PÚBLICO protagonista da obra.
“Público x Lorca” propõe uma linguagem cénica que re-situa o actor neste mundo com todos os outros seres através de uma jornada de autoconhecimento físico, emocional e espiritual.
Ao aceitar a meta-teatralidade da peça, recolocamos o actor e a sua personalidade, a sua carne, que irão juntos enfrentar o público, como personagens de uma trama em que o teatro já está no teatro. O actor, como criador, imprime a sua marca pessoal sobre as lacunas dos personagens, gerando uma profunda jornada de autoconsciência durante o processo criativo para o qual se convida o público durante a apresentação.
Os espectadores encontrarão uma reinterpretação d’O Público relevante e actual, alimentada pela experiência e interculturalidade da equipa, mas acima de tudo honesta e comprometida, onde as emoções, acções e formas são as protagonistas do trabalho, com o corpo como ferramenta principal e o texto como inspiração e não como regra. O próprio Lorca nos desafia a ousar com seu trabalho “irrepresentável”.
O espectáculo está a ser construído por um colectivo de 10 artistas oriundos de quatro países: Costa Rica, Espanha, França e Portugal. Depois de uma primeira residência artística realizada em Espanha, o grupo está em Coimbra ensaiando no Teatro de Bolso do TEUC, um dos parceiros do projecto. Antes de “se mudar” para o TCSB, onde acontecerá a estreia e a temporada inaugural de 3 dias, entre 16 e 18 de Novembro.
Origem
Rafaela Bidarra, actriz e produtora do espectáculo, também TEUC antiga, lembrou as origens do projecto, que situou na Costa Rica, quando Matilde Ciria foi convidado a dirigir o espectáculo “Frankestein”, de Mary Shelly, no Teatro Nacional daquele país. Aí se deu o primeiro contacto com Arturo Campos, actor costa-riquenho que integra o elenco. O projecto foi submetido a concurso no âmbito do programa Iberescena e obteve assim o financiamento necessário à sua concretização. Depois da estreia em Coimbra, o espectáculo partirá para uma digressão internacional, pelos restantes três países representados e “por outros países da América Latina”.
A par do trabalho dos actores – Arturo Campos (Costa Rica), Eduardo Retamar e o próprio Matilde (Espanha) e Rafaela Bidarra (Portugal) – o espectáculo tem uma componente visual fortíssima, graças à direcção plástica de Carolina Santos, às máscaras de Maxence Thireau e ao desenho de luz de Jorge Ribeiro. A equipa artística inclui ainda o espanhol Pablo de las Vecillas (assistência de dramaturgia e contexto literário) e o costa-riquenho Fabian Arroyo.
A Escola da Noite
Pedro Rodrigues, produtor d’A Escola da Noite 8 companhia residente e responsável pela gestão e programação do TCSB), afirmou ser um privilégio para a companhia poder associar-se a este projecto internacional. Nos nove anos que A Escola da Noite leva à frente do Teatro, esta é “a 20.ª estreia externa à companhia que aqui acontece e isso é algo de que nos orgulhamos: queremos que esta casa seja uma casa amiga da criação artística e gostamos de a colocar à disposição de outros artistas e de outras estruturas”.
Para Pedro Rodrigues há várias singularidades: o facto de ser um projecto internacional, cuja estreia mundial acontece em Coimbra; a juventude da esmagadora maioria dos artistas envolvidos (quase todos abaixo dos 40 anos); as ligações a Coimbra de vários dos membros do colectivo; o contexto de intercâmbio entre diferentes países, no qual também A Escola da Noite está empenhada há muito; e, ainda, Lorca – “um dos nossos autores” e autor de “dois espectáculos emblemáticos do percurso da companhia”: “Amores” (1996) e “Amor de Don Perlimplín con Belisa en su Jardín” (2002).
DANÇA | TEATRO
Público x Lorca
criação colectiva a partir d’O Público de Federico García Lorca
Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo
16 a 18 de Novembro de 2017
interpretação Arturo Campo (CR), Matilde Javier Ciria (ES), Rafaela Bidarra (PT), Eduardo Retamar (ES) direcção Matilde Javier Ciria (ES) assistência de dramaturgia e contexto literário Pablo de las Vecillas (ES) direcção plástica Carolina Santos (PT) máscaras Maxence Thireau (FR), Carolina Santos (PT) música – composição original Fabian Arroyo (CR) desenho de luz e direcção técnica Jorge Ribeiro (PT) assistência técnica Vera Silva (PT) grafismo e fotografia Carolina Santos (PT), Rafaela Bidarra (PT), Eduardo Retamar (ES), Matilde Javier Ciria (ES), Stephanie Campos (CR)
M/14 > 6 a 10 Euros
Informações e reservas: 239 718 238 / 966 302 488 / [email protected]