Minha Mãe
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O cinema reflexivo e altamente pessoal de Nanni Moretti dá-nos um novo avanço sobre as suas inquietações. Depois de exorcizar o pânico de perder um filho (O Quarto do Filho), encarou de frente a perda real da mãe (durante a rodagem de Habemus Papam), mas coloca-se aqui de lado, atribuindo à actriz Margherita Buy o papel de realizadora em crise existencial. Talvez essa fosse a forma de melhor conseguir avaliar essa perda. E era a realizadora (ele?) quem dizia aos seus actores, para estarem sempre ao lado da personagem, não deixarem de ser eles próprios. Algo que é próximo ao realizador de 62 anos, ele que considera mesmo (na nossa entrevista) que fazer um filme “é sempre um investimento pessoal”.
No filme, Moretti é apenas o irmão, calmo, ponderado, enquanto ela lida com os problemas da rodagem, com a incompetência de um actor americano pavão (John Turturro), como que se possuísse a disponibilidade de avaliar os problemas a uma certa distância, como fosse um anjo à sua beira. E percebe-se que necessita dessa distância para arrumar as suas ideias, como que fazendo um luto sereno. Recorda então o latim que a sua mãe (verdadeira) leccionava e que agora ensinava a neta, que também aprendia a guiar a sua scooter. Como que se estabelecendo aqui a renovação da vida, através do cinema.
Depois do murro no estômago que foi O Quarto do Filho, Moretti volta a tocar na ferida na realidade cruel da vida. E, com aplauso, serve-se do cinema para injectar uma dose de fantasia, de humor mesmo quando se chora a rir.
Nota: A nossa Opinião (de * a *****)